
Acho que sou uma pessoa bastante desprendida com os objetos. Não guardo as primeiras roupas dos meus filhos, o meu brinquedo da infância preferido, presentes que ganhei dos primeiros namorados, enfim, não tenho apego por coisas que não têm mais uso para mim e que podem significar alguma coisa para outras pessoas. Mas não me desfaço de livros. Se eles valem a pena, os guardo, mesmo sem lê-los. As vezes me sinto mesquinha por isso. Porque não doar os livros que já li? Mas não. Estão todos aqui em casa. O Pedro, ao que tudo indica, será como eu. Logo depois que o Antônio nasceu, ele me disse que daria tudo que era dele para o irmão. Roupas e brinquedos, mas os livros não. Eu argumentei que um dia ele iria crescer e não querer mais ler aquelas histórias de criança. "Aí você não vai se importar de dar seus livros para o Antônio." Ao que ele retrucou me perguntando se eu gostava mais dos meus filhos ou dos meus irmãos. Sem entender a pergunta, ele me explicou que não podia doar para o Antônio o que planejava guardar para seus filhos. Ri, com a certeza de que um dia ele deixaria o irmão ficar com seus livros. Alguns deles, aqueles para crianças menores, já estão na estante do Antônio. Ao que parece, essas pequenas doações não o fizeram esquecer de seus planos. Anteontem travamos mais um capítulo deste diálogo. Ao me ver encapando um livro recém-comprado, me perguntou porque eu sempre fazia aquilo. Expliquei que os livros de crianças ficam muito gastos com o uso e que ao encapá-los os estava protegendo.
- Assim, eles duram mais para outras pessoas lerem.
Ao que ele perguntou.
- Mãe, o que o que vai acontecer com os livros quando eu morrer?
- Eles vão ficar com os seus filhos - disse, seguindo sua própria lógica.
- E e quando os meus filhos morrerem?
- Vão passar para os seus netos - continuei, explicando que até hoje tenho livros que foram do meu avô, da minha avó e até da minha bisavó.
Não satisfeito, insistiu.
- E quando morrer todo mundo da nossa família?
- Aí, eles vão ficar como uma marca de que nós passamos por este mundo.
PS: Depois desta conversa, me lembrei de
O livro - um encontro, da sempre maravilhosa Lygia Bojunga: "Para mim, livro é vida; desde que eu era muito pequena os livros m e deram casa e comida." Vale a pena ler.