
sábado, 19 de dezembro de 2015
Natal é um tempo de amor, magia e histórias

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015
50 anos riscando a vida
Hoje acordei com 50 anos. Levantei cheia de sono, querendo dormir mais, mas levantei rápido o suficiente para agarrar a vida com a pressa de quem acredita estar apenas no meio do caminho. E para celebrar essa data, nada melhor do que lembrar o meu poeta preferido, falando com a justeza dos céticos sobre as possibilidades da vida.
"Nunca pensei que tal mundo
com sermões implantaria.
Sei que traçar no papel
é mais fácil que na vida,
Sei que o mundo jamais é
a página pura e passiva.
O mundo não é uma ilha
de papel, receptiva:
o mundo tem alma autônoma,
é de alma inquieta e explosiva.
Mas o sol me deu a ideia
de um mundo claro algum dia.
Risco nesse papel praia,
em sua brancura crítica,
que exige sempre a justeza
em qualquer caligrafia:
que exige que as coisas nele
sejam de linhas precisas
e que não faz diferença
entre a justeza e a justiça."
Trecho de "O auto do Frade", de João Cabral de Melo Neto

com sermões implantaria.
Sei que traçar no papel
é mais fácil que na vida,
Sei que o mundo jamais é
a página pura e passiva.
O mundo não é uma ilha
de papel, receptiva:
o mundo tem alma autônoma,
é de alma inquieta e explosiva.
Mas o sol me deu a ideia
de um mundo claro algum dia.
Risco nesse papel praia,
em sua brancura crítica,
que exige sempre a justeza
em qualquer caligrafia:
que exige que as coisas nele
sejam de linhas precisas
e que não faz diferença
entre a justeza e a justiça."
Trecho de "O auto do Frade", de João Cabral de Melo Neto
segunda-feira, 30 de novembro de 2015
Sobre meninos e meninas
Encontrei Meninas inventadas, de Ana Letícia Leal, na prateleira de uma livraria e ele me chamou a atenção por ser escrito pela irmã que não conheço de um velho amigo de faculdade. Era um livro que não me servia. Pequenino, em formato de bolso, com uma capa convidativa para adolescentes que passam horas de pernas pro ar, pensando na vida, escrevendo segredos e desenhando pequenos corações e flores em seus cadernos de escola. Um livro que não tinha nada a ver com meus dois meninos e tão pouco comigo, que estou longe da adolescência e prestes a fazer 50 anos. Mesmo assim o peguei, curiosa em ver o que Ana Letícia escrevera. Queria na verdade saber se sua narrativa era mais uma daquelas que tratam as adolescentes como meninas super-poderosas em eterno conflito com os pais ou com adversárias de escola. Logo na contra-capa tive uma surpresa, Ana Letícia era apresentada por Lygia Bojunga, uma escritora que fala com verdade do ser adolescente e que, por isso, tem encantado muitas gerações de leitores. Ao abrir o livro vi que ele era a reunião de alguns contos sobre questões que angustiam as adolescentes, como auto-estima, amizade, namoros, conflitos familiares, a descoberta do sexo e as escolhas para o futuro. Apesar de não ter para quem lê-lo, resolvi comprar para mim mesma. Eu que não tenho uma filha, apesar de, desde sempre, ter pensado em ser mãe de menina. Todas os nomes de criança que me encantavam eram femininos: Bárbara, Diana, Branca, Dora foram alguns de que gostei ao longo da vida. Eles serviam tanto para forjar uma nova identidade para mim mesma ou para sonhar com uma filha. Eu brincava de renomear a mim mesma e, assim, experimentar novas possibilidades do feminino, que, afinal, era pouco em minha vida e garantido apenas por minha mãe, uma avó, uma tia e duas primas. No mais estava cercada de homens, meu pai, dois irmãos, avô, dois tios e um primo. Homens sempre no comando, homens que ocupavam os melhores lugares da casa e da vida. No meio social da minha família era tradição as mulheres não trabalharem, se dedicarem aos filhos e ao lar. Eu estava sendo criada para transgredir a essa regra, como se fosse uma pioneira. Mas não era. Muita gente já havia trilhado esse caminho antes de mim, mas, em minha ignorância, acreditava estar sozinha e, por isso, olhava para o mundo dos homens. Talvez isso explique minha predileção pelos bonecos. Achava uma perda de tempo brincar de Susi, a irmã brasileira da então quase inacessível americana Barbie. Gostava mesmo de embalar bebês, trocar roupinha, dar mamadeira e os colocar para dormir. Para isso, precisava de bonecos grandes, como Marco Antônio, que foi o mais querido de todos. Presente de uma tia-avó que o trouxe da França, era um lindo bonequinho loiro de cabelos cacheados e olhos azuis que chegou, aqui, com um pintinho, naquela altura impensável nos bonecos brasileiros, o que garantiu o seu sucesso na minha escola. Eu andava com ele para lá e para cá e o apresentava como filho, até que, um dia, animada falei para toda a turma que era meu filho com um amiguinho por quem era encantada. A professora, com o moralismo comum nos anos 70, me passou um sabão daqueles, me proibindo de falar o que, segundo ela, eu não sabia o que significava. Claro que, naquela altura, não pensava em como se faziam os bebês. Estava interessada apenas em sonhar com uma vida de adulta ao lado do meu amor platônico de primário. Naquele dia, sem saber, me tornava mãe sozinha, mas, mesmo sem pai, ele continuou comigo até o meio da minha adolescência, quando o Travolta, um cachorro maneiro, como o Toni do filme, chegou em minha casa disposto a roer o que visse pela frente e se deliciou com as mãos e os pés do Marco Antônio. Triste em ver meu boneco todo mastigado pelo cachorro, acabei me desapegando dele e o esquecendo. Cresci, o Travolta parou de roer sapatos e de comer bolas de Natal, e a vida seguiu sem bonecos e com outros interesses, até que, um dia, me vi diante da maternidade, agora de verdade. Eu estava grávida aos 35 anos, desejando não mais uma menina, mas um menino. E era ele, o Pedro, com o nome escolhido pelo pai, já que eu não conseguia pensar em nenhum que fizesse sentido para o bebê que chegava. Novamente estava diante do masculino, que se ampliou ainda mais na minha vida cinco anos depois com o nascimento do Antônio. Há pouco mais de 13 anos, vivo em um universo formado por bolas, super-heróis, zumbis e jogos eletrônicos e sonorizado por comentaristas de futebol, rock and roll e bobeiras incontáveis que circulam pela web ou que os próprios inventam. Confesso que as vezes me dá saudades dos papos de menina, das brincadeiras de boneca, de casinha, de escolinha, de trocar segredos, enfim, de povoar um mundo de sonhos e sutilezas que só as meninas acalentam. Mas, por outro lado, quando vejo as meninas de hoje não me reconheço nelas. Elas foram jogadas em um mundo de consumo sem fim, que encurta a infância e lhes nega o direito de brincar, se embolar com meninos e meninas sem preocupação com a roupa, os cabelos, enfim, a imagem. Nunca precisei ser princesa para ser menina e sonhar, em um dia, ser mulher. Meus caminhos foram outros. Me maquiei escondida como toda criança, vesti as roupas e calcei os sapatos de minha mãe, experimentei absorventes muitos anos antes da menarca e beijei muito espelho antes do primeiro namorado. Mas nada me caía tão bem a ponto de acreditar que estava pronta para aquela vida. Tudo sobrava, ficava largo, grande, como um aviso de que eu ainda era uma criança. A Branca de Neve, a Bela Adormecida e a Cinderela não me eram caras por serem princesas. Eu gostava delas por serem heroínas que superaram traições, rejeições e o abandono para, enfim, abraçar um final feliz e, se me lembro bem, não eram apenas as meninas que se emocionavam com seus destinos. Os meninos também adoravam aquelas histórias de órfãs, madrastas, bruxas, fadas, anões e encantamento que faziam das princesas heroínas unissex. Hoje, o sexismo conveniente ao comércio de produtos derivados dessas histórias fazem com que meninos rejeitem histórias maravilhosas para todas as crianças, como O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry, explorado hoje pela indústria cultural como mais um mimo do universo das meninas. Essa avalanche de consumo que cai sobre as meninas me assusta e me faz louvar mães e pais que nadam contra a corrente para oferecer às filhas mais da vida. Sei que os meninos não ficam imunes aos apelos do consumo, representando no universo masculino pelos uniformes de futebol e os jogos eletrônicos, mas, em sua maioria, eles conseguem vivenciar a infância menos ansiosos do futuro do que as meninas e isso me alegra em ser mãe de meninos ao mesmo tempo em que me angustio com muitas meninas aceitando para si, sem questionamentos, esse papel de princesa fútil e linda que a industria cultural quer lhes reservar. Cabe a nós mulheres feitas mostrar para elas que o feminino é muito mais rico que um reino encantado. Neste caminho é preciso deixar que elas vejam que existir é experimentar tudo: a vitória e o fracasso, a segurança e a insegurança. a aceitação e a rejeição, a adaptação e a inadaptação, enfim, o conforto e o desconforto. A vida não é nem de perto uma história de princesa. A adolescência, então, nem se fala. É um tempo de inquietações e são sobre elas que as meninas inventadas de Ana Letícia falam sem medo e sem pudores em seus diários, enfrentando com verdade temas
delicados. As meninas de Ana Letícia são inventadas, mas
poderiam ser encontradas em qualquer parte. É só olhar com um pouco mais de
atenção para nossas adolescentes que veremos que, por traz de tanta arrogância,
há na verdade muitas dúvidas e medo de estar sozinha em seu mal-estar. Expor sentimentos tão comuns na
adolescência, ajudando a menina a reconhecer seu lugar no mundo, é a grande qualidade do livro, editado pela Escrita Fina e ilustrado por Cecília Murgel com os mimos adorados pelas meninas. Uma leitura que valeu ter sido feita, mesmo que eu, neste momento da vida, esteja tão longe da adolescência e das meninas.
terça-feira, 10 de novembro de 2015
Antônio e o poder das narrativas

domingo, 1 de novembro de 2015
Dez livros para crianças com mais de 10 anos
Vou postar aqui a terceira parte da lista de livros que recomendei, no site Catraquinha. Agora é para crianças de mais de 10 anos. Como disse lá, a indicação etária é apenas uma sugestão. É preciso avaliar individualmente a maturidade de cada criança para determinadas leituras. A leitura sozinha, por exemplo, requer mais maturidade do que aquela feita com a mediação de um adulto. Portanto, antes de comprar um livro, o folheie na livraria para ver se ele está adequado a criança a que se destina. Todos esses livros estão aqui comentados. Quem quiser saber um pouco mais deles, procure-os no blog. No mais, divirtam-se lendo para as crianças.
da Casa de Lygia Bojunga, conta a história de Raquel, uma menina em conflito consigo própria por reprimir três grandes desejos - o de ter nascido menino, de ser escritora e de ser gente grande. Os desejos de Raquel são guardados em uma bolsa amarela, um universo fantástico que envolve o leitor no processo de amadurecimento da menina.
"A invenção de Hugo Cabret", Brian Selznick, da SM Editora, é um livro que tem o cinema como protagonista e por isso traz dele alguns elementos de sua narrativa. Selznick alterna longos trechos de texto com storyboards, sequências de desenhos usados na pré-produção de filmes, para contar a história de Hugo Cabret, um menino que vive escondido dentro do relógio de uma estação de trem na Paris dos anos 30.
"As mil e uma noites" é um belo livro sobre o poder das narrativas. A primeira história é a de Sherazade, que cria um estratagema para livrar a si e a seu povo do Rei Shariar, que depois de traído resolve dormir cada dia com uma virgem e entregá-la à morte ao amanhecer. Sherazade apela para o fascínio dos contos para, noite após noite, poupar uma moça de seu povo. Duas boas opões são as edições da Revan, com tradução de Ferreira Gullar, e da Cosac Naify, de Arnica Esterl, ilustrada por Oga Dugina.
"A moça tecelã", de Marina Colasanti, da Global Editora, é um belo conto em que a premiada autora cria um universo fantástico para falar do feminino e do poder das mulheres na tecedura da vida. A narrativa de Marina é delicada e intensa, criando em uma história autoral o clima dos contos tradicionais. Um livro que emociona e encanta crianças e adultos. Um livro para compartilhar.
"Meninas inventadas", de Ana Letícia Leal, da editora Escrita Fina., é um diário de várias adolescentes que falam das angústias comuns nesta idade. A narrativa da autora tem humor e delicadeza, ao mesmo tempo que enfrenta sem medo questões como amizade, conflitos familiares, as escolhas para o futuro, os namoros e a descoberta do sexo.
"O gênio do crime", João Carlos Marinho, da Global, é um clássico que já está em sua 60ª edição e continua agrando a meninos apaixonados por futebol e por suspense. O livro conta as aventuras da Turma do Gordo que é chamada pelo editor de um álbum de figurinhas de futebol a descobrir uma quadrilha de falsários que estava colocando em risco sua empresa.
"O fantástico senhor raposo", Roald Dahl, da Martins Fontes, narra o embate do senhor Raposo com Boque, Bunco e Bino - três fazendeiros "incrivelmente maus e mesquinhos"- que resolvem mata-lo por ele roubar bichos de suas fazendas para comer. O conflito acaba por envolver outros animais que vivem embaixo da terra e é rico em situações e soluções para a vida deles.
"O Pequeno Nicolau", Goscinny, é um personagem de Goscinny, o criador de Asterix, que ganha corpo nas ilustrações de Sempé. Menino dos anos 60, Nicolau vive hilárias aventuras com seus amigos e pais, narradas de uma forma atropelada que faz lembrar a maneira das crianças de contarem um caso. Os livros são editados pela Martins Fontes e pela Rocco Jovens Leitores,
"Psiquê", Angela Lago, Cosac Naify,é o reconto do mito de Psiquê, a bela princesa que desperta a ira da deusa Afrodite e, depois de enfrentar os abismos da alma e a morte, acaba conquistando o coração de Eros. As ilustrações de Angela criam uma atmosfera de sonho e fantasia, como pano de fundo para o enlace da alma com o amor, que faz do livro uma preciosidade.
"Sete ossos e uma maldição", de Rosa Amanda Strausz, da Rocco Jovens Leitores, é um livro com 11 contos de terror que é uma boa pedida para a iniciação de jovens leitores no gênero. Com uma narrativa elegante, que não apela para o bizarro, Rosa cria histórias tensas, com tramas surpreendentes, que prendem a atenção do leitor até a última linha.
Confira as sugestões para crianças maiores de 10 anos










Dez livros para divertir crianças de 6 a 9 anos
Vou postar aqui a segunda parte da lista de livros que recomendei, no site Catraquinha. Agora é para crianças de 6 a 9 anos. Como disse lá, a indicação etária é apenas uma sugestão. É preciso avaliar individualmente a maturidade de cada criança para determinadas leituras. A leitura sozinha, por exemplo, requer mais maturidade do que aquela feita com a mediação de um adulto. Portanto, antes de comprar um livro, o folheie na livraria para ver se ele está adequado a criança a que se destina. Todos esses livros estão aqui comentados. Quem quiser saber um pouco mais deles, procure-os no blog. No mais, divirtam-se lendo para as crianças.










quinta-feira, 22 de outubro de 2015
Dez livros para crianças de até cinco anos
Vou postar aqui a lista de 10 livros que recomendei, no site Catraquinha, para crianças de até 5 anos. Como disse lá, a indicação etária é apenas uma sugestão. É preciso avaliar individualmente a maturidade de cada criança para determinadas leituras. A leitura sozinha, por exemplo, requer mais maturidade do que aquela feita com a mediação de um adulto. Portanto, antes de comprar um livro, o folheie na livraria para ver se ele está adequado a criança a que se destina. Todos esses livros estão aqui comentados. Quem quiser saber um pouco mais deles, procure-os no blog. No mais, divirtam-se lendo para as crianças.
A Arca de Noé, de Vinícius de Moraes, é uma ótima iniciação na poesia. Os belos poemas de Vinícius para crianças falam não apenas de bichos, mas de coisas do cotidiano e de amor e podem ser acompanhados em suas versões musicadas. A Cia das Letrinhas tem duas edições: uma ideal para crianças menores, ilustrada por Nelson Cruz, e outra, com desenhos de Laura Beatriz.
Amigos e Os Aventureiros, do alemão Helme Heine, editados pela Ática, são livros que falam com humor e lirismo da amizade de três amigos que curtem juntos aventuras, brincadeiras e o ócio. Uma narrativa encantadora que faz as crianças se imaginarem no lugar do galo Juvenal, do porco Valdemar ou do rato Frederico. Destaque para as delicadas aquarelas do autor.
Aperte aqui, de Hervé Tullet, editado pela Ática, convida as crianças a apertarem, virarem, balançarem e chacoalharem o livro, reproduzindo nas duas dimensões da folha impressa os jogos virtuais de computadores e tablets de que as crianças tanto gostam. Uma prova de que o virtual não é um produto apenas das plataformas digitais, mas, sobretudo, da imaginação humana.
As aventuras de Pedro Coelho, de Beatrix Potter, da Cia das Letrinhas, reúne quatro dos 23 contos da inglesa, que, no início do século passado, criou um rico universo campestre por onde circulam coelhos, patos, esquilos, texugos, raposas e outros bichos. A narrativa das histórias tem o ritmo do campo e as ilustrações, delicadas aquarelas da própria autora, fazem dos livros um encanto.
Dez sacizinhos, de Tatiana Belinky, editado pela Paulinas, é a versão da autora para o tangolomango, aquela brincadeira falada que se começa de 10 para criar uma lengalenga em um ritmo decrescente que envolve a criança na mágica da subtração. Tatiana foi nas matas brasileiras buscar o Saci para criar sua história, que ganhou inspiradas ilustrações de Roberto Weigand.
Estela, de Marie Luise Gay, é uma série de livros editados pela Brinque-Book que encanta as crianças. O mundo de Estela nos é apresentado pelas delicadas aquarelas da autora, que mostra o despertar das crianças para as coisas da vida por meio de divertidos diálogos da menina com seu irmão mais novo, Marcos, dono de Fred, um esperto cãozinho que dá ainda mais sabor às histórias.
Onde vivem os monstros, de Maurice Sendak, editado pela Cosac Naify, conta em texto e imagem a história de Max, menino que, castigado pela mãe, embarca em uma viagem imaginária à terra onde vivem os monstros. Uma viagem que dá ao pequeno leitor inúmeras possibilidades de dialogar com seus medos, desejos, fantasias e ansiedades. O livro é lindo e um clássico.
Pé de cobra, asa de sapo, de Rafael Soares de Oliveira, pela Ática, é uma ótima iniciação no mundo dos seres mitológicos. Rafael apresenta em 38 quadrinhas mitos de origens diversas, em textos divertidos. As ilustrações de Jean Galvão contribuem para que a leitura seja estimulante e cheia de descobertas. Ao fim, o autor presenteia o leitor com um glossário sobre os mitos de que falou.
Selvagem, de Emily Hughes, da Pequena Zahar, conta com ilustrações vibrantes e texto divertido a história de uma menina selvagem, criada na floresta com a ajuda de animais, e seu primeiro contato com os humanos. Uma história que fala de uma infância feliz e livre e tem tudo para criar identificação com as crianças.
Ter um patinho é útil, da argentina Isol, editado pela Cosac Naify, mostra em forma de sanfona que tudo na vida tem dois lados. O livro propõe uma inteligente brincadeira com a criança, convidada a desenrolar a sanfona de um lado para conhecer a história do menino com o patinho e do outro, a do patinho com o menino.










segunda-feira, 5 de outubro de 2015
Um convite para olharmos para quem nunca é olhado
Nos últimos dias, eu e o Pedro estamos lendo juntos Capitães
da Areia, de Jorge Amado. O livro, que teve sua primeira edição em 1937 e
suscitou a ira da elite baiana, que o queimou em praça pública, está fazendo o
Pedro dormir mais tarde todos os dias à espera de mais e mais da turma de Pedro
Bala. Ele luta até quando pode contra o sono, que teima em o levar para longe
das areias de Salvador, e se emociona a cada nova aventura dos meninos
desvalidos de quem Jorge Amado nos fala. Uma leitura que está fazendo o Pedro romper a invisibilidade
que meninos pobres negros ou pardos sofrem neste país desde os primeiros dias
da República. O mérito do livro não é nos fazer desculpar os crimes cometidos
pelos Capitães da Areia. É nos fazer enxergar cada um desses pequenos delinquentes
como um indivíduo dono de uma história, de uma carência, de uma dor e, por
fim, de uma valentia exercida nem sempre para o bem. Mas quem fez o bem para
aqueles meninos? Pois é, a literatura de Amado nos tira das sombras que faz
com que os brancos sempre-no-comando classifiquem meninos pobres negros ou
pardos com o mesmo rótulo: “marginais”. Ele apresenta um a um dos Capitães da
Areia e, assim, nos faz pensar neles como pensamos em nossos filhos ou em nós
mesmos. Eles são meninos, mas meninos abandonados pela família e rejeitados por
todos, que não tiveram oportunidades, amor e acolhida. Meninos que, se tratados como meninos, podem ser como
qualquer outra criança ou adolescente. Mas não são tratados como meninos. São
tratados como bichos, como pessoas mal queridas e mal chegadas. Mas eles são
meninos que sonham com uma família, com um deus bondoso, com comida, com o
calor de uma boa cama, enfim, com uma vida que lhes é negada com a violência do
desprezo de quem a tem. Este é o mérito do livro, colocar meninos pobres negros
ou pardos em cima de um carrossel e fazê-los girar, girar e girar para permitir
a eles um pouco do encantamento da infância a eles negada. Jorge Amado denuncia a invisibilidade que os pobres amargam neste
país. Uma invisibilidade que só nos fica clara quando olhamos de perto, bem de
perto para cada um deles. E foi neste exercício de olhar que o Pedro embarcou e
está acompanhando com toda a sua emoção a história. “Mãe, este é o melhor livro
que li na minha vida”, disse, fazendo a ressalva de que a história é muito
tensa. “Imagina, fazer um manco correr e bater muito nele por que ele não
consegue correr mais”, completou, referindo-se às torturas que o Sem-pernas
sofreu no reformatório. O olhar que o Pedro está voltando para os meninos de Jorge
Amado faz com que ele possa se colocar no lugar deles e, isso, o confunde. Como
alguém piedoso como Pirulito pode enfiar uma faca no pescoço de um outro
menino? Como Pedro Bala tão valente e amigo no comando do grupo pode as vezes
ser tão cruel? Como meninos que tanto sofrem, fazem tantas pessoas sofrerem?
Pois é, estas perguntas tiram o Pedro do lugar de conforto que ele vive. De
menino amado, querido, acolhido, cuidado e provido e o fazem desejar uma
solução para tanto sofrimento. É neste exercício de colocar-se no lugar do outro e de
voltar a si depois dessa experiência que está a riqueza da literatura. Se não
quero para mim, não quero para os outros. É neste diálogo com o outro que podemos construir nossa identidade e, em uma realidade de tantas conexões superficiais, encontros com o mundo dos Capitães da Areia são ainda mais ricos. Encontros como estes são capazes de mexer e remexer com a emoção de quem está do outro lado do mundo daqueles desvalidos das areias. Não importa se esses meninos foram criados há quase um século por um escritor que já nos deixou. O que importa é que os Capitães da Areia, infelizmente, ainda são nossos contemporâneos e Jorge Amado nos convida a olhar para eles. É justamente neste convite de olhar para quem nunca foi olhado que reside a contemporaneidade do livro escrito há quase um século, mas que se mantém jovem o suficiente para encantar um menino de 13 anos.
domingo, 16 de agosto de 2015
Um livro para provocar o pequeno leitor

Se quiser ouvir o comentário sobre o livro na Rádio BandNews FM do Rio, clique aqui.
quinta-feira, 23 de julho de 2015
A beleza da festa do boi por Roger Mello

Se quiser ouvir o cometário sobre o livro na coluna Hora da Leitura, da Rádio BandNews FM do Rio, clique aqui.
quarta-feira, 15 de julho de 2015
Uma adaptação que guarda a magia do original

Se quiser ouvir o comentário sobre o livro, na coluna Hora da Leitura, da Rádio BandNews FM Rio, clique aqui.
segunda-feira, 29 de junho de 2015
Hora da Leitura estreia na Band News FM do Rio

sexta-feira, 12 de junho de 2015
Quando não sobra tempo para o dever de casa
Confesso que, quando criança, algumas vezes deixei de fazer os deveres de casa. Não lembro quantas vezes, mas acredito que o número tenha sido o resultado da conta entre a vergonha de chegar na escola sem eles e a preguiça de fazê-los. Mas uma coisa tenho certeza: todas as vezes que falhei em minhas obrigações de aluna, inventei uma história para não ficar tão mal assim com a professora. A mais comum era a que tinha esquecido meus deveres em casa, mas, em caso de precisar mudar a desculpa, qualquer coisa valia, assim como para o menino protagonista de No he hecho los deberes porque, de Davide Cali, editada pela espanhola Pepa Montano. Ele é inquerido pela professora porque não fez os deveres e sai desfiando uma série de desculpas esfarrapadas e mirabolantes para justificar sua falta. Desculpas absurdas como, eu "tive que ajudar o meu tio a construir uma super máquina para fazer-os-deveres-por-mim. Mas, quando ao fim acabamos, ela não funcionava". A professora ouve com a maior paciência para o deleite do pequeno leitor, que pode acompanhar, em cada uma das desculpas, uma expressiva ilustração de Benjamin Chaud, mas, ao fim, diz que não acredita no pequeno. Ele, espantado, pergunta a razão dele não acreditar nele. "Porque eu li o mesmo livro", diz a professora, mostrando o livro que estamos lendo. Confesso que torci para que o menino pudesse usufruir do benefício da dúvida sobre se sua desculpa havia colado, o que me animou em todas as vezes que precisei inventar uma lorota para a professora. Meu castigo foi ter que, anos depois, conviver com meus filhos fazendo das suas para não cumprir com os deveres de casa. Sou dura na cobrança, como a professora do menino, mas confesso que não consigo esquecer que toda, ou quase toda criança, quer mesmo é arrumar um jeito de não fazer o dever de casa. Assim, ao mesmo tempo que os puno, lá no fundo do meu coração, perdoo meus meninos, quando não lhes sobra tempo para fazer o dever de casa.
quarta-feira, 3 de junho de 2015
Enquanto Rui não cresce e toma juízo

Em uma coisa as crianças têm razão: mãe é uma figura chata. Está sempre reclamando, mandando o filho fazer o que não quer, chamando a atenção, enfim, educando. Mas eles, com a experiência que têm, é claro, não são capazes de perceber que toda aquela chatice, no fundo, no fundo, é para o bem deles. Então, vamos combinar que o que sobra é a chatice. E é isso que a mãe de Rui, protagonista de Enquanto isso, de Jules Feiffer, editado pela Companhia das Letrinhas, é: uma mala. A mãe interrompe, com seus gritos, os momentos de prazer do menino, irritando-o, até que um dia, tem uma brilhante ideia: imitar as histórias em quadrinhos e dar um corte temporal na narrativa para livrar-se dela. Enquanto a mãe grita, ele transporta-se para aventuras radicais e, para salvar-se desses novos perigos, usa novamente o recurso do "enquanto isso" aprendido nas tirinhas. Feiffer joga esse jogo como um craque - ele é um reconhecido quadrinista americano - e nos dá, assim, a oportunidade de curtir muitas maluquices, enquanto Rui não cresce e toma juízo. As aventuras narradas por Feiffer bem que poderiam ter saído da cabeça de um dos meus filhos, que ouviram atentos à história, para as redações da escola. Os personagens que cruzam com Rui são os tops do imaginário infantil: piratas, tubarões e outras feras que fazem Rui correr de uma história para outra, até aterrizar novamente em seu quarto para enfrentar a maior delas: sua mãe. Um livro bacana que nos faz lembrar que as melhores histórias para crianças são aquelas escritas por quem não se esqueceu de como era ser criança. Assim, Feiffer cria um Rui cheio de moral, mesmo que, do ponto de vista das mães, ele não tenha qualquer razão.
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