quinta-feira, 25 de dezembro de 2014
Natal é tempo de acreditar...
Há uns dias fui com o Antônio em um shopping que tinha como decoração de Natal a casa do Papai Noel. A novidade o atraiu, o que me levou a esperar uns 10 minutos na fila, pelo privilégio de ver o bom velhinho. Este tempo não foi em vão. O Antônio aproveitou para escrever um objetivo bilhete, em que pedia com pouquíssimas palavras uma chuteira da Nike, de um pink metalizado, usada por nove entre 10 meninos de seu futsal.
Assim que entramos, tirou uma foto com o Papai Noel e entregou a cartinha, com seu pedido. Na saída, perguntei se tinha gostado do passeio e recebi uma resposta que me deu a certeza de que meu menino, com sete anos, ainda acredita na lenda de São Nicolau.
- O Pedro é muito mané de não ter querido vir com a gente! Eu até garanti meu presente de Natal – disse-me orgulhoso de ter levado vantagem em relação ao irmão de quase 13 anos, que, incrédulo, não viu o quanto havia perdido em negar-se a fazer o passeio.
Passados uns dias de procura da tal chuteira, fui ter novamente com ele.
- Sabe aquela chuteira que você pediu? Pois é, não a estou achando em loja nenhuma – disse.
- Tá vendo – gritou irado - Mais uma prova de que Papai Noel não existe! É você quem compra os presentes – me acusou de dedo em riste.
- Que nada, Antônio – me apressei a tentar consertar a gafe - Ele pediu para eu comprar a chuteira porque lá, no Polo Norte, é difícil achar Nike. E me disse também que vai te dar outro presente, uma surpresa – inventei, tentando salvar o Papai Noel no imaginário do meu pequeno.
Ele me olhou por alguns segundos sério e pensativo.
- E aí? Prefere que eu dê a chuteira e o Papai Noel dê a surpresa ou que ele dê a chuteira – perguntei, ansiosa pela resposta.
- Tudo bem! Você dá a chuteira.
Diante do tom resignado de sua voz, fiquei na dúvida se ele estava sendo mais uma vez ingênuo ou se, para ganhar dois presentes, estava aproveitando-se da boa-fé de uma velha, que insistia em fazer com que ele acreditasse em Papai Noel. Mas calei-me.
Dias depois, sem mais, nem porquê, me perguntou de pronto.
- Mãe, o Papai Noel sabe ler em letra cursiva?
A pergunta, de quem está se esforçando para transforar sua letra bastão em letra cursiva, me pegou de surpresa e me fez ter a certeza de que o Antônio está naquela fase da infância, em que a fantasia resiste bravamente às ofensivas da realidade. Só não sei até quando ela vai continuar a vencer.
PS: Natal é tempo de acreditar. Acreditar em Papai Noel, em mais amor, em uma vida melhor, enfim, em renovação. Virginia acreditou, Antônio acredita e virão outros tantos, como eles, para nos encher de ternura nesta data. Um feliz Natal para todos.
segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
Uma âncora ao mar para viver um breve e enorme amor
Cuidar, como verbo transitivo indireto - cuidar de quem, está meio fora de moda. Ninguém quer perder tempo e dinheiro com os outros. Somar tempo e dinheiro, inclusive, é uma operação comum antes da decisão por filhos e fazê-la é uma atitude honesta, que pode evitar escolhas erradas. A honestidade, no entanto, não muda o fato de que, em um mundo individualista e marcado pelo narcisismo, hedonismo e consumismo, cuidar dos outros é como estar em um navio e lançar uma âncora ao mar. O que ninguém pensa, nessa hora, é que, as vezes, o navio ancora em belas paragens. Um prazer que pode ser fruído por quem, menos ansioso, consegue ver beleza onde está. É sobre esse prazer que Marina Colasanti trata em Breve história de um pequeno amor, editado pela FTD, que acabou de ganhar o prêmio Jabuti de melhor obra de ficção. Um prêmio que colocou, justa e tardiamente, a literatura para jovens leitores no andar de cima. Na história, Marina é a própria personagem principal: uma cuidadora de um pombinho que ficou sem a mãe e passa a depender dela para viver. O bichinho come por suas mãos e aprende a voar, com quem não tem asas. Uma narrativa delicada, como é a marca da prosa poética de Marina, que soma-se às expressivas ilustrações da argentina Rebeca Luciani. O livro foi editado para leitores mais experientes, mas encantou meu menino pequeno. Antônio, com seus sete anos, ouviu com interesse a história da escritora que descobriu um ninho no forro do teto de seu escritório e assumiu a responsabilidade pelos filhotes, abandonados pela mãe. Foram três dias de leitura para acabar o livro. Três noites de carinho com o meu pequeno, que aconchegou-se a mim, como se fosse o filhote de Marina. Ao fim, Antônio acompanhou com o coração apertado o voo final do pombo, já crescido e acasalado. "Mãe, ela ficou triste quando ele foi embora", perguntou. "Ficou, Antônio, mas ela sabia que um dia isso ia acontecer. O importante são os momentos que eles passaram juntos", respondi. O pequeno amor de Marina pelo pombinho é como o grande amor dos pais pelos filhos. Nós cuidamos deles, mesmo sabendo que, um dia, vão nos virar as costas para, crescidos, irem embora. E, nem por isso, deixamos de cuidar deles. É o amor do qual fala Marina que faz valer a pena cuidar de alguém, mesmo quando isso parece um péssimo negócio. Este amor é que transforma a velha operação tempo e dinheiro, que na frieza da matemática sempre dá negativa, em positiva, para fazer valer a pena ter filhos. Há 13 anos, lancei minha âncora ao mar para curtir um pouco e, sei disso, por pouco tempo, essa paragem que é a maternidade. Posso assegurar que ela é um ótimo lugar para viver um breve, mas enorme amor.
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
Axterix, Obelix e as inevitáveis comparações entre irmãos
O Pedro e o Antônio, nos últimos 12 anos, têm me ensinado muita coisa. A principal delas é que o
melhor a se fazer é aceitar os filhos como eles são. Compará-los com outras crianças, sejam estranhas ou não, é a pior coisa que uma mãe ou um pai podem fazer. As comparações não são boas ferramentas de educação e só criam frustração, tanto para pais, quanto para filhos. Para controlar a tentação de fazê-las, recorro à memória, onde encontro ainda fresca a frase cunhada por meu amigo, Marcos Derizans, que, aos 20 e poucos anos, deitado de barriga para cima no pilotis da PUC, já sabia de tudo: "Coelho (ele me chama assim até hoje), para ser feliz a gente tem que baixar a expectativa". É verdade, só assim é possível encontrar o caminho do meio, fruir a vida e amar as pessoas como elas são e não como queremos que elas sejam. Mesmo sabendo disso tudo, é inevitável que as vezes a gente se esqueça disso e eu esqueço muitas vezes. "O Pedro nesta idade já fazia isso e aquilo", penso em relação ao Antônio. "O Antônio está fazendo isso e aquilo muito antes do que o Pedro", completo e sigo olhando meus meninos como se eles fossem as únicas crianças a crescerem no mundo. Estes pensamentos são reforçados e muito pelos livros que leio para os dois. As leituras para o Pedro ficaram no passado ou na carona do irmão - ele não admite, mas ainda adora ouvir uma boa história e, por isso, reclama pacas quando a escolhida não lhe agrada - e as para o Antônio continuam a ser diárias. Algumas delas, muito poucas, diga-se por justiça, escolhidas por mim ou vindas da ciranda da escola, e a grande maioria, por ele. Do acervo doméstico, ele escolhe sempre as mesmas, ficando as novidades por conta das retiradas semanais da biblioteca da escola. De lá, vem de tudo um pouco, até que veio Asterix, os quadrinhos de Uderzo e Goscinny que foram muito lidos na casa que compartilhei, até minha juventude, com meus pais e meus irmãos. "Será que o Antônio vai entender essa história", perguntei a mim mesma. "Com quantos anos, eu comecei a ler Asterix", continuei, sem achar a resposta em minha memória. Mas ele queria ouvir a história da aldeia gaulesa que enfrenta os romanos com bravura e muita poção mágica do velho druida Panoramix e foi o que fiz. Foi então que começou a confusão na cabeça do Antônio, que se confundiu com os nomes dos personagens da aldeia. Asterix, Obelix, Panoramix, Abracourcix, Ideafix, Chatotorix, e todos outros foram se misturando na cabeça do pequeno, mas seguimos a história. O Pedro atentíssimo, prestando a maior atenção na história, e o Antônio parando com frequência para perguntar quem era quem. A leitura, como não podia deixar de ser, foi feita em etapas e durou uns três dias. Três dias de volta à velha aldeia gaulesa e às maluquices de Asterix e Obelix me deram ainda mais a certeza de que na vida não há regras. Cada um é cada um e a realidade e a vida é fruída por cada um de nós, como queremos e como podemos fruí-las. No resto, são expectativas dos outros, que, na maior parte das vezes, frustam quem as acalenta e machucam quem as vê cair sobre seus ombros. Por isso, todos os dias lembro que não devo sonhar com o futuro dos meus filhos. Repito esta lição como se fosse um mantra, mas, devo confessar, que eu, como as crianças, esqueço muitas vezes o que ouço.
melhor a se fazer é aceitar os filhos como eles são. Compará-los com outras crianças, sejam estranhas ou não, é a pior coisa que uma mãe ou um pai podem fazer. As comparações não são boas ferramentas de educação e só criam frustração, tanto para pais, quanto para filhos. Para controlar a tentação de fazê-las, recorro à memória, onde encontro ainda fresca a frase cunhada por meu amigo, Marcos Derizans, que, aos 20 e poucos anos, deitado de barriga para cima no pilotis da PUC, já sabia de tudo: "Coelho (ele me chama assim até hoje), para ser feliz a gente tem que baixar a expectativa". É verdade, só assim é possível encontrar o caminho do meio, fruir a vida e amar as pessoas como elas são e não como queremos que elas sejam. Mesmo sabendo disso tudo, é inevitável que as vezes a gente se esqueça disso e eu esqueço muitas vezes. "O Pedro nesta idade já fazia isso e aquilo", penso em relação ao Antônio. "O Antônio está fazendo isso e aquilo muito antes do que o Pedro", completo e sigo olhando meus meninos como se eles fossem as únicas crianças a crescerem no mundo. Estes pensamentos são reforçados e muito pelos livros que leio para os dois. As leituras para o Pedro ficaram no passado ou na carona do irmão - ele não admite, mas ainda adora ouvir uma boa história e, por isso, reclama pacas quando a escolhida não lhe agrada - e as para o Antônio continuam a ser diárias. Algumas delas, muito poucas, diga-se por justiça, escolhidas por mim ou vindas da ciranda da escola, e a grande maioria, por ele. Do acervo doméstico, ele escolhe sempre as mesmas, ficando as novidades por conta das retiradas semanais da biblioteca da escola. De lá, vem de tudo um pouco, até que veio Asterix, os quadrinhos de Uderzo e Goscinny que foram muito lidos na casa que compartilhei, até minha juventude, com meus pais e meus irmãos. "Será que o Antônio vai entender essa história", perguntei a mim mesma. "Com quantos anos, eu comecei a ler Asterix", continuei, sem achar a resposta em minha memória. Mas ele queria ouvir a história da aldeia gaulesa que enfrenta os romanos com bravura e muita poção mágica do velho druida Panoramix e foi o que fiz. Foi então que começou a confusão na cabeça do Antônio, que se confundiu com os nomes dos personagens da aldeia. Asterix, Obelix, Panoramix, Abracourcix, Ideafix, Chatotorix, e todos outros foram se misturando na cabeça do pequeno, mas seguimos a história. O Pedro atentíssimo, prestando a maior atenção na história, e o Antônio parando com frequência para perguntar quem era quem. A leitura, como não podia deixar de ser, foi feita em etapas e durou uns três dias. Três dias de volta à velha aldeia gaulesa e às maluquices de Asterix e Obelix me deram ainda mais a certeza de que na vida não há regras. Cada um é cada um e a realidade e a vida é fruída por cada um de nós, como queremos e como podemos fruí-las. No resto, são expectativas dos outros, que, na maior parte das vezes, frustam quem as acalenta e machucam quem as vê cair sobre seus ombros. Por isso, todos os dias lembro que não devo sonhar com o futuro dos meus filhos. Repito esta lição como se fosse um mantra, mas, devo confessar, que eu, como as crianças, esqueço muitas vezes o que ouço.
segunda-feira, 4 de agosto de 2014
Uma bruxa velha, feia e pronta para o amor

quarta-feira, 2 de julho de 2014
Um livro, uma parlenda, muitos afetos e algumas surpresas

domingo, 15 de junho de 2014
Toda criança tem medo do lobo mau
O medo é um bom tempero para a imaginação, não há quem duvide. Talvez seja isso que garanta sucesso para as histórias de lobo. Afinal, estou para conhecer criança que não tenha medo do lobo mau. Um lobo que come porquinhos e meninas ingênuas e que pode estar em qualquer lugar. É justamente dessa ameaça que Anna Flora fala em Quem tem medo do lobo mau?, editado pela Record e ilustrado por Walter Ono, prestigiado ilustrador da geração de 1970. O livro, de 1987, antecede a atual tendência de Hollywood de desconstruir os tradicionais contos de fadas. Ele foi lançado, no Brasil, um ano antes de, nos EUA, ser editada A verdadeira história dos três porquinhos, de Jon Scieszka, que, como Anna Flora, contou o embate do lobo com os porquinhos pela visão do algoz. Anna Flora e Scieszka falam de um lobo injustiçado, logrado pelos porquinhos e alçado à condição de vilão por obra do acaso. Mas falam de histórias diferentes. A de Sciesszka já foi comentada aqui no Gato de Sofá. A de Anna Flora foi uma surpresa para mim. Achei o livro em uma banquinha de usados, na Praça São Salvador, no Rio, e resolvi trazê-lo para casa para ler para meus dois meninos, apaixonados por histórias de lobo. O livro, pequenino, em formato de bolso, tem uma narrativa longa, em que o lobo conta para o delegado seu ponto de vista sobre a história dos três porquinhos. A ela se juntam expressivas ilustrações de Walter Ono, que nos ajudam a dar corpo aos fatos. A narrativa de Anna Flora nos prende a atenção até o desfecho de sua história, em que o lobo sai, com a mão no bolso, assobiando um sambinha. Isso mesmo, ela usa e abusa do nonsense para oferecer para as crianças uma narrativa saborosa. O único senão, segundo o Pedro, que acompanhou tudo com a maior atenção, foi o lobo não saborear os porquinhos. "Ele tinha que ter comido os porquinhos", protestou. Faz sentido. Na história original, de Joseph Jacobs, os porquinhos das casinhas de palha e de madeira vão parar na barriga do lobo, em uma narrativa sem qualquer pudor. Afinal, ao contrário das histórias que desconstroem o lobo, como a de Anna Flora e Sciesza, toda criança tem medo do lobo mau. Mesmo assim, sempre vale a pena ouvir o outro lado. Mesmo que, nesse lado, esteja um lobo.
quarta-feira, 11 de junho de 2014
Um livro, como a vida, sempre tem dois lados
Ninguém duvida de que os fatos da vida sempre têm mais de uma versão. Infinitas versões, dependendo da situação, mas, podemos garantir, que, no mínimo, duas. E nem sempre é fácil compatibilizá-las e harmonizá-las. A vida é como ela nos parece ser. Não há vacina contra a má interpretação dos fatos. Não há garantias de que o que vemos de fato existe. Não há, nem mesmo, certezas sobre como são as coisas. Pois é, a visão dupla, o ponto de vista, a interpretação é a matéria prima de Ter um patinho é útil, da autora e ilustradora Isol, a argentina que ganhou, em 2013, o Alma, um dos mais prestigiados prêmios da literatura para crianças e jovens do planeta. O patinho de Isol, editado por aqui pela Cosac Naify, é na verdade a maneira de a autora brincar com esta verdade ou com a constatação da ausência dela. De um lado o patinho é o objeto útil para o menino. Do outro, o menino é o objeto útil para o patinho. Eles se alternam graças a um artifício do projeto gráfico do livro, que é uma sanfona com dois lados. A criança desenrola a sanfona de um lado, para ler a história do menino e quando chega do outro lado, começa a história do patinho. Uma brincadeira que parece simples e destinada apenas a entreter o pequeno leitor, mas tem a capacidade de ludicamente traduzir literariamente um axioma da vida. Não há dúvidas de que, quando um autor consegue esta façanha, a alegria fica por conta do leitor. Aqui em casa foi assim. O Pedro, mesmo já quase um adolescente, com seus 12 anos, se divertiu ao desvendar a brincadeira proposta por Isol. Riu ao fim, com o riso de quem percebe a trapaça da autora. Um livro para ler, tocar, abrir e pensar. Pensar em como a vida tem sempre, pelo menos, dois lados. Feliz de quem logo percebe isso.
segunda-feira, 2 de junho de 2014
Um botão para soltar a imaginação

segunda-feira, 26 de maio de 2014
A teia da vida é forjada nó a nó pelo feminino

domingo, 13 de abril de 2014
A vida e o barco que seguem adiante

segunda-feira, 24 de março de 2014
Todos querem um irmãozinho

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
A ira também ataca os poetas

“As pessoas adoram e pedem mais e mais histórias; então, lá vai uma bonitinha, de família, que minha amada mãe, Christina Gurjão, me contava sempre rindo. Papai queria porque queria fazer um poema para a Borboleta Amarela. Sentado na cadeira, em frente a sua escrivaninha, máquina de escrever, tec, tec, tec, não gostava, tirava o papel da máquina e amassava o papel em bolinha, jogado no chão, insatisfeito, na busca da poesia. Tarde da noite, mamãe fora dormir, sem ainda ele ter saído da cadeira, tec, tec, tec, silêncio, barulho de papel amassado. Deu-lhe um beijo e, ainda na cama, antes de ferrar no sono, os mesmos barulhinhos, tec, tec, tec, e de papel amassado. Diz que despertou, o dia amanhecendo, com papai indo dormir. Ainda ficou um tempo na cama, mas logo se levantou, já curiosa para ver que poema lindo haveria saído depois de tanto tec, tec, tec. Na sala, um mar de bolinhas amassadas, muitas no chão, e, na máquina de escrever, um papel, que ela foi ler, com o título A Borboleta Amarela, e abaixo escrito: A Borboleta Amarela – Merda pra ela!”
sábado, 8 de fevereiro de 2014
Uma bela história, sem título e com muitas possibilidades

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