Há cerca de um ano o Antônio fez a pergunta que, cedo ou tarde, toda criança faz.
- Mãe, Papai Noel existe?
- Não, Antônio. Papai Noel é uma lenda - respondi, seguindo minha convicção de que não se mente para crianças.
- E o Coelhinho da Páscoa?
- Também não, meu filho.
A reação do Antônio me surpreendeu. Em vez de estar pronto para a decepção, como sua curiosidade sugeria, ele ficou muito revoltado com a realidade. Tão revoltado que o aconselhei a ignorar minha resposta.
- Antônio, você ainda quer acreditar em Papai Noel e Coelhinho da Páscoa?
- Sim - disse ele, com os olhos vermelhos.
- Então, filho, Papai Noel e o Coelhinho da Páscoa continuam a existir para você. É só você querer e acreditar que eles vão existir - disse, certa de que era o que ele precisava ouvir para se apaziguar com a vida e suas fantasias.
Seu desejo era tamanho que, imediatamente, se reconciliou com a fantasia. Voltou a tratar Papai Noel e o Coelhinho como personagens reais e, agora, às vésperas de mais um Natal, ele, já com quase sete anos, faz planos que incluem a generosidade do bom velinho. Planos que dão como certa sua existência, tão certa que pressupõem uma comunicação direta com o Polo Norte, que dispensa intermediários, como os correios ou, mesmo, os pais para fazer chegar a Papai Noel seu pedido de Natal.
Assim teria sido, não fosse a intervenção salvadora do Pedro, o irmão, que com quase 12 anos, enterneceu-se com a ingenuidade do pequeno. Ao saber do pedido, quase secreto, ao Papai Noel, resolveu me contar para, assim, garantir a chegada do presente do irmão.
- Mãe, o Antônio disse que pediu um presente para você e o papai e um para o Papai Noel. Ele não sabe que são vocês que compram o presente do Papai Noel - disse, entre divertido e preocupado com o que aconteceria com os pedidos do irmão.
Avisada, orientei o Pedro a escrever com o Antônio uma cartinha para o Papai Noel e, depois, me entregá-la para que eu soubesse o que ele queria de presente. Assim que a carta me chegou, prometi colocá-la ao lado da árvore de Natal para que um duende pudesse pegá-la, durante a madrugada, e levá-la para o Polo Norte.
A estratégia deu tão certo que Papai Noel já entregou o presente dos dois, para que eu os esconda até a noite de Natal. E o que é melhor, garantiu a crença de meu pequeno na magia do Papai Noel.
Uma experiência tão encantadora para o Antônio, quanto a do menino criado por Chris van Allsburg, em O Expresso Polar, editado pela Editora Nova Fronteira. O personagem de Allsburg, que sonhava em ganhar um dos guizos de prata das renas de Papai Noel, quando tem seu pedido atendido, percebe que só ele e seus amigos eram capazes de ouvir o tilintar do guizo. Tilintar que ressoa em seus ouvidos até hoje e "nos de todos aqueles que realmente acreditam". O Antônio, que ouviu atento a história, é um dos que pode ouvi-lo. Que possa fazer parte deste grupo privilegiado, até quando seu coração quiser.
segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
sábado, 23 de novembro de 2013
Uma floresta com as cores do imaginário popular
Eu amo a delicadeza das aquarelas de Cárcamo. Amo tanto que não pensei duas vezes em levar para casa A contagem dos sacis, de Monteiro Lobato, editado pela Globinho, para ler para os meninos. Nós já tínhamos lido O Saci e a história foi um sucesso, deixando aquele gostinho de quero mais, comum quando terminamos um livro que amamos. O mesmo gostinho, tenho certeza, que as crianças que leram o livro na época de sua publicação, em 1921, experimentaram e que animou Monteiro Lobato a escrever uma continuação da história. As séries que dão continuidade a uma história de sucesso não são uma invenção da indústria do cinema. Os escritores, aqueles que viviam de escrever, antes mesmo de Hollywood, já haviam sacado esta possibilidade. Pois bem, Lobato que, além de escritor, era um editor em busca de boas possibilidades, fez a sua continuação com a história do encontro de Pedrinho e o Saci para uma coleção que seria publicada, em 1947, em Buenos Aires, onde seus livros eram um sucesso. A professora Marisa Lajolo, especialista em Lobato, nos explica no prefácio, que a história que faz parte desta coleção e que ela ficou de fora das obras completas do autor, publicada no Brasil. Uma história que narra o início da amizade entre Pedrinho e o Saci e - como bem gostava Lobato - nos incita a um debate sobre o que é mais eficaz para garantir a obediência: a violência ou os valores morais. O debate ganhou o Pedro. Na hora, ele retrucou zombando da conclusão de Lobato de que "as cordas morais amarram mais do que todas as cordas físicas", mas a dúvida se instalou em sua cabeça. No dia seguinte, perguntou ao pai, como que para reunir mais argumentos: "Pai, o que tem mais poder: o medo ou a lealdade?". O Cadoca explicou que a lealdade é mais forte, já que não busca brechas, como o medo, para derrotar o outro. "Quem conquista pela lealdade, conquista. Quem conquista pelo medo, subjuga. E esta pessoa espera a primeira oportunidade para trair seu opressor." Ficou uma lição para o Pedro, mas mais do que tudo ficou uma boa história para seu repertório. Uma história que se enriqueceu ainda mais com as belíssimas ilustrações de Cárcamo, que fez do universo de Pedrinho e do Saci um ambiente sombrio e ao mesmo tempo colorido. Uma floresta dúbia, como criou Lobato, que ao mesmo tempo que assusta, guarda as cores vivas do imaginário popular. Quem ganha com o encontro de Lobato com Cárcamo são nossos filhos, que podem ler e ver a magia do folclore brasileiro.
terça-feira, 19 de novembro de 2013
O lobo não quer só comida e a gente quer diversão e arte
O Pedro sabe bem que não há nada melhor do que uma história bem resolvida. Não basta uma bela narrativa ou um bom personagem. É preciso, antes de tudo, um enredo engenhoso, que se desdobre com coerência e originalidade. É isso que garante que a peteca - que o leitor vai equilibrando desde o início da história - não vai cair em seu final. Um bom final cria aquela sensação mágica que faz tudo parecer possível nesta vida, até mesmo o maravilhoso. Esse encantamento é, com certeza, uma das graças da literatura para crianças e, por isso, não é fácil de ser alcançado. Muitos livros tentam e não chegam lá. Não é o caso de A fome do lobo, de Cláudia Maria de Vasconcellos, editado pela Iluminuras. A história bebe na tradição da oralidade, com um enredo que se desenrola aos poucos, abusando das repetições e de pequenos avanços até que, de uma hora para outra, tudo se encaixa para um desfecho surpreendente. Uma fórmula que prendeu a atenção do Pedro, encantado também com as belíssimas ilustrações de Odilon Moraes que só fazem engrandecer a história de Cláudia. Ele ouviu atento a todas as tentativas do lobo de comer um dos animais que encontrava pelo caminho. As saídas das vítimas, criativas, levavam a história novamente para seu início, adiando o final e deixando o Pedro ainda mais curioso. Uma curiosidade que só foi saciada no fim da narrativa e que não fez sofrer o Antônio, que, antes mesmo da leitura, folheou o livro e se divertiu fingindo adivinhar o resultado de cada embate do lobo com suas presas. No início, eu até acreditei que ele estava desvendando o desenrolar da história, mas, ao fim, percebi a artimanha de meu pequeno leitor que, com a cara mais lavada do mundo, antecipava as derrotas do lobo. Derrotas que só faziam a fome do lobo e a nossa curiosidade aumentar. Ao fim, de barriga cheia o lobo nos deixou com a certeza de que sua fome não era só de comida e que a nossa, sem dúvida, era de diversão e arte.
terça-feira, 5 de novembro de 2013
Os encantos e as encrencas de uma princesa unissex

quarta-feira, 18 de setembro de 2013
Liberdade é escolher sem a pressão do vendedor

segunda-feira, 16 de setembro de 2013
Uma ponte capaz de transpor grandes distâncias
Eu adorava as tirinhas do Henfil quando era adolescente. Se vivo, ele teria hoje quase a idade da minha mãe, dando-nos uma distância de pouco mais de 20 anos. Um distância que seu humor transpõe sem dificuldades. Um humor inteligente, ancorado em um traço expressivo que cria formas e emoções variadas, em desenhos que são pouco mais que rabiscos. A força dessa criatividade fez de Henfil um sucesso, nos anos 70 e 80, e um símbolo da resistência democrática em nosso país, imortalizado na canção de João Bosco e Aldir Blanc. Lembro bem do dia em que comprei a minha camiseta das Diretas Já!. Escolhi uma branca, estampada com a Graúna, de Henfil, pedindo eleições diretas. Eu tinha apenas 18 anos e estava cheia de planos para o Brasil. Foi a minha primeira derrota e a camiseta foi parar no armário, onde está até hoje. Talvez tenha sido a última derrota de Henfil, que se foi, em 1988, antes de elegermos o primeiro presidente da República. Ele se foi, mas sua obra ficou, como ficam as que valem a pena. Seu humor ainda é capaz de transpor a distância que separa a época de sua morte das crianças de hoje, como o Pedro e o Antônio, que, até há dias atrás, nem sonhavam com sua existência. Essa é a beleza da arte. Comunicar-se com muitos, por muito tempo e de diversas formas. A ponte que uniu os dois meninos do século XXI ao artista do século XX foi construída com a leitura de quatro dos nove livros do cartunista, escritos para o filho Ivan e editados recentemente. Senti que a leitura era um sucesso já na primeira oração do texto. "Um sapo na beira do mar?!" perguntou o Antônio, com um misto de surpresa e deboche. Mas foi só avançarmos um pouco na leitura, que ele abriu-se ao nonsense da história de um sapo ameaçado por um tubarão e salvo por um canguru. O sucesso, eu já sabia, estava garantido pela presença de um tubarão, o animal mais temido pelo Antônio. Mas nunca imaginei que ele passaria preciosos minutos admirando os desenhos de Hefil. Pois foi assim. Depois de ouvir e rir com o Sapo Ivan e Olavo foi a vez de Sapo Ivan e Ananias, O Sapo que queria beber leite e Sapo Ivan e o Bolo, todos editados pela Nova Fronteira. Ao fim, sentou-se para examinar os livros e elegeu O sapo que queria beber leite, como a sua história favorita. Também, pudera, ela é a mais nonsense de todas. Nonsense como a imaginação das crianças. O Sapo Ivan pensa como uma criança e não alguém criado para falar para ela. Essa verdade do personagem convence. Convenceu o Antônio e depois o Pedro, que, no dia seguinte, em uma segunda leitura, se juntou ao irmão para rir das maluquices do Sapo Ivan e sua turma. Pedro, já com 11 anos, quis saber mais do Henfil. Eu lhe contei que conheci sua obra por intermédio de minha mãe e meu pai, que eram seus fãs, e da importância que ele tem na história do cartum brasileiro. Interessado, prometi mostrar-lhe um pouco das tirinhas da turma do Bode Orelana e dos Fradins. Falei que eram tirinhas publicadas para adultos, mas que podem falar para crianças, como o Sapo Ivan foi criado para uma criança e também encanta os adultos. O melhor de tudo foi perceber, depois destas duas noites de leitura, que o Sapo Ivan foi mais do que uma história para mim e para os meus filhos. Foi a possibilidade de eu fazer, em um breve instante, uma ponte para transpor a distância que separa o meu tempo do tempo deles. Um poder que só a literatura e o afeto têm.
terça-feira, 3 de setembro de 2013
Texto e ilustração a serviço da imaginação

sexta-feira, 9 de agosto de 2013
Um anjo torto contra a caretice

Sei que você está longe, na Nova Zelândia, escrevendo e cuidando de um lindo jardim à beira-mar, e que eu, com o meu português, provavelmente não poderei fazer-me escutar por ti. Mas, mesmo assim, te escrevo para contar do amor de meu filho Antônio por um de seus livros, o Diabolim, que, por aqui, foi editado pela Martins Fontes. O Antônio tem apenas seis anos e uma bruta imaginação. Ele ama belas histórias e desenhos, como há nos seus livros. Já lemos juntos e amamos alguns - é bom registrar, mas nenhum deles ganhou lugar tão privilegiado no imaginário do meu filho, como foi o caso de Diabolim. Seu diabinho, com cara de cãozinho de estimação e seu ameaçador tridente, já nos é íntimo. Há quase um mês, lemos todas as noites a história de afirmação deste anjo caído, que sonha em ser amado pelas pessoas que o rejeitam por ser peralta, implicante, atrapalhado e amalucado. Nós, lhe garanto, o amamos mesmo torto. Seria até mais honesto dizer que o amamos por ser torto. Torto como o Antônio e seu irmão, Pedro. Torto e do bem, como toda criança livre. Jogue a primeira pedra quem nunca foi, um dia apenas, um Diabolim na vida de alguém. Como disse uma professora do colégio dos meus filhos, as crianças tortas são fascinantes, como o seu Diabolim o é. Seu personagem nos permite voos para além de sua história, voos que nos acendem lembranças de outros tempos, em que também podíamos ser tortos, e de outros diabinhos que esbarramos na vida. A implicância de Diabolim com o padre e os anjinhos me fez lembrar ainda uma deliciosa história de Giovanni Guareschi, que li há anos atrás, por influência de minha mãe, sobre a tumultuada relação entre Don Camillo, um padre de uma pequena comuna italiana, e Peppone, o prefeito comunista, dois arqui-inimigos que haviam sido super-amigos na infância. Confesso que amo este humor europeu, que humaniza deus e o diabo, e nos garante boas risada. Nada pior do que a caretice e o preconceito que nos fazem calar. Seu Diabolim é uma palavra e desenho contra a caretice. Nos faz crer que a vida pode ser policromática, como suas ilustrações, e que podemos ter mil possibilidades, como seu diabinho. Ele é torto, mas é do bem. Por isso, o amamos. Obrigado por mais este livro. De seus fãs, Luciana e Antônio.
segunda-feira, 5 de agosto de 2013
Os 12 trabalhos de Hércules e os desafios de Pedro

quinta-feira, 18 de julho de 2013
Entre o tchau e o adeus há muita vida pela frente

quinta-feira, 23 de maio de 2013
Trocando de lugar com o filho

PS: Posto aqui meu agradecimento à Karina, à Beth e à Júlia, que estão ajudando o Antônio nesta aventura, e a foto da capa da nova edição do livro. Para quem quiser conhecer os outros comentários sobre o livro, basta clicar aqui ou aqui.
quarta-feira, 22 de maio de 2013
De vilão a herói, o Curupira Pirapora

segunda-feira, 20 de maio de 2013
Uma conversa tête-à-tête com Clarice
A resistência do Antônio em aceitar novas histórias para seu repertório, já citada aqui algumas vezes, está sendo quebrada pelas visitas semanais de sua turma à biblioteca da escola. Até o ano passado, na educação infantil, ele frequentava uma aconchegante sala de leitura, em que livros dividem espaço com bonecos. Agora, no fundamental, sua turma frequenta uma biblioteca em uma torre, com estantes repletas de livros que cobrem as paredes da sala até o teto. Das janelas, vê-se uma bela vista. Mas o Antônio, ainda baixinho, só tem olhos para os livros. São tantos e com tantas histórias que ele faz planos de trazê-los para casa. Toda semana vem com um livro novo para lermos juntos. A leitura é sempre um prazer, que nas últimas semanas ganhou mais uma alegria, com a aventura da decodificação das primeiras letras. Uma graça sua leitura. Ela vem esbarrando em dois erres, dois esses, cês, agás, cedilhas e outras trapaças do nosso português, mas não desiste de tentar. O dia todo lê o que lhe passa pela frente e nos chama para comunicar sua mais nova conquista. Deitado na cama, ouvindo histórias, a vontade de ler cresce, mas vida de iniciante não é fácil. A letra cursiva, a opção editorial da maior parte dos livros, acrescenta um novo desafio às crianças em fase de alfabetização, que ainda estão lidando com a letra de forma, ou bastão. Mas o Antônio não desiste nunca e consegue ler algumas poucas palavras, em meio a leituras incompreensíveis. Assim foi com A mulher que matou os peixes, de Clarice Lispector, editado pela Rocco Jovens Leitores, e ilustrado por Flor Opazo, que tiramos da nossa estante mesmo. Antônio adiantou-se para ler ele mesmo e, com a maior segurança, saiu falando uma série de fonemas desconexos. Em meio a uma língua estranha, emplacou algumas palavras em português. Satisfeito com sua performance, entregou-me o livro e passou a acompanhar com interesse minha leitura. O Pedro, que já conhecia a história, juntou-se a nós para ouvi-la mais uma vez. Deitada ao lado do Antônio, comecei a ler: "A mulher que matou os peixes, infelizmente sou eu. Mas juro a vocês que foi sem querer". Logo nas primeiras frases do conto, Clarice mostra que vai travar um diálogo franco com seus leitores. As crianças são as suas interlocutoras e é elas que Clarice quer convencer de que não é uma pessoa má e que matou os peixes sem querer. Para isso, vai buscar em suas memórias as histórias dos bichos que teve. São vários causos, contados com crueza, sem metáforas, para mostrar para seus pequenos leitores que ela sempre gostou de animais. Seu diálogo com as crianças é tão verdadeiro que o Antônio respondia a todas as perguntas que faz no texto, criticava suas atitudes e até lamentava pela sorte dos bichos sobre os quais Clarice escreve. A história que mais o tocou foi a de Max e Bruno, dois cães amigos que lutam até a morte por causa de um ser humano. Antônio ficou triste, como Clarice disse que ele ficaria, e não perdoou Bruno, apesar de ela pedir compreensão com o cão. Nesta altura, o Pedro que acorda com a alvorada, já tinha sucumbido ao sono. Eu e o Antônio seguimos, então, adiante para o fim da história, que não guarda mistério algum, a não ser aquele escondido atrás de um belo texto. Mistério que o Antônio decifra com sua alma de leitor-ouvinte, que anda fazendo um esforço sobre-humano para ler as palavras que lhe trazem tantas histórias.
quinta-feira, 9 de maio de 2013
Monstros malvados, noites insones e histórias verdadeiras
O assunto não é novo. Já falei aqui que sofro há anos com invasões bárbaras, na calada da noite, à minha cama. Primeiro era o Pedro, que chegava e,sem pedir, se aboletava entre mim e o Cadoca para fugir do escuro ou de sonhos ruins. Depois chegou a vez do Antônio, que chega pelo lado da cama, de mansinho, pedindo socorro para espantar seus medos. Sei que eu não sou a única mãe que passa por isso, mas, tenho certeza, que saber disso não me alivia a alma: cansada, insone e atormentada por monstros e bruxas que aparecem no quarto vizinho e eu nem os vejo. Por isso, entendo o mal humor dos pais de André, o herói amedrontado do livro Uma cama para três, de Yolanda Reyes, da Edições SM, belissimamente ilustrado por Ivar da Coll. O menino, como todos, resiste em dormir e faz súbitas aparições no meio da noite. Nós pais sabemos o mal-estar do outro, mas sabemos também o nosso, no dia seguinte, em que palitinhos de fósforo não serão capazes de manter nossos olhos abertos. Mas vá lá, os monstros que assustam as crianças não têm piedade de nós. Yolanda Reyes sabe bem disso. Sabe também contar esta história sem paternalismos, expondo a dor de cada um e, digamos assim, a insensibilidade dos monstros. Não me interessa livros para espantar os medos das crianças, me interessa histórias que falem deles com verdade. Monstros, bruxas e fantasmas não assustam ninguém quando a luz está acessa e, a hora da leitura com os pais na cabeceira da cama, é um belo momento para as crianças encará-los com os olhos bem abertos. Assim fez o Antônio. Ele acompanhou a longa história calado e ao fim dela, assim ficou. Seus olhos de criança não se enganam com soluções fáceis e palavras encorajadoras. São olhos que estão dispostos a olhar para dentro, se alguém lhes convencer que este é o melhor caminho. Caminho que só é possível trilhar com verdade. E quem tem medo, não acredita em qualquer história. Muito menos naquelas que teimam em dizer que monstros não existem. Por isso, às vésperas do Dia das Mães, peço apenas um presente. Uma noite bem dormida.
quarta-feira, 8 de maio de 2013
Uma aventura em versos de cordel

terça-feira, 7 de maio de 2013
Misturando experiências e criando o novo

terça-feira, 30 de abril de 2013
Quando a Chapeuzinho Vermelho enfrenta o lobo

sexta-feira, 26 de abril de 2013
Tim Maia, Pessoa, Andersen e as tristezas da vida
Mal dormi hoje por conta de uma crise de tosse que tirou o sono do Antônio às quatro da manhã. Ele foi me pedir socorro e implorar para que eu tirasse aquela doença dele, mas nem todo o meu carinho, xarope e spray de própolis foram capazes de acalmar sua tosse. Ficamos insones, ele e eu e, assim que amanheceu, seguimos para nossa rotina. No rádio do carro, ainda bem cedo, ouvi Tim Maia cantar Bom senso, de seu álbum místico, Racional, e fiquei pensando em como muita coisa mudou nestes 47 anos em que estou no mundo. Quem hoje falaria assim, de cara tão limpa - nesta época o Tim estava limpo, que fez muita coisa errada, dormiu na rua e pediu ajuda? Hoje, vivemos tempos em que todos nascem limpos, bem-sucedidos e felizes. Um tempo em que o Tim seria mais outsider do que foi em sua breve vida. Um tempo que, na verdade, apesar de todo o discurso da diversidade, há lugar para cada vez menos pessoas. Entendo por lugar, um lugar qualificado, que garanta as oportunidades e a mobilidade que a modernidade promete a todos e oferece a apenas alguns. O desabafo de Tim me fez pensar em como nós, da classe média, temos criado nossos filhos. Nas estratégias que adotamos para evitar que eles vivam a dor, a vergonha, a tristeza, a dureza, entre tantas agruras, e no resultado desta proteção. Pensei em Fernando Pessoa e seu Poema sujo, em que o poeta português diz nunca ter conhecido quem tivesse levado porrada e que todos os seus amigos têm sido campeões em tudo. Pensei na máxima das redes sociais de que ninguém é tão feito quanto na identidade, tão bonito como no Orkut, tão feliz como no Facebook, tão simpático quanto no Twitter, tão ausente como no Skype, tão ocupado quanto no MSM e tão bom como diz seu currículo. Talvez por falta de coisa melhor para fazer, estava pensando em tudo isso quando abri meu Facebook e me deparei com dois comentários que engrossaram o caldo de minhas reflexões. Um deles estava no perfil de um jornalista da minha idade, que questionava a supervalorização da juventude. O outro, era de uma jornalista já avó, na dúvida se deveria ler os contos de Hans Christian Andersen para seus netos. Nesta hora, tudo se encaixou. Tim Maia, Fernando Pessoa, redes sociais, Andersen e os jovens da classe média de hoje, que formam uma geração poupada das tristezas e durezas da vida e que ocupam cada vez um lugar maior no mundo. Um mundo, que, por outro lado, nega lugar a outros tantos jovens menos privilegiados. Uma geração que chegou ao poder cedo demais, sem antes ter experimentado privações. Os jovens, que hoje estão no poder, são bem nascidos e bem adaptados a um mundo individualista, marcado pelo consumo e pela busca de status. São filhos de uma camada da sociedade que, cada vez mais, tem garantido lugar nos postos de mando, posto que, cada vez menos, jovens pobres têm condições de ascender. Digo ascensão social de verdade, não esta inclusão que tira os pobres da faixa de miséria e os condena a serem trabalhadores sem instrução, em empregos e moradias precárias e uma realidade de consumo de segunda classe, garantida pelo amplo crédito e subsídios do governo. Aquelas histórias de meninos que começam como boys de bancos e décadas depois estão sentados nas cadeiras da diretoria serão cada vez mais raras, em um mercado que supervaloriza a formação profissional, em uma sociedade que não garante nem mesmo ensino básico de qualidade. Não estou dizendo que só o sofrimento construa, mas, com certeza, sem ele não podemos nos tornar humanos. A riqueza dos contos de Andersen, dizem os historiadores e seus críticos, está intimamente ligada à vida pobre de sua família em Odelsa, na Dinamarca. Andersen foi um menino pobre, que soube transformar sua dor em histórias verdadeiras que, há dois séculos, falam da condição humana com tanta clareza que encanta crianças e adultos de vários cantos do mundo. Seus contos são sofridos, assim como sua infância, mas nos permitem saídas. Saídas construídas pela imaginação, acalentada quando criança pelo seu pai, um humilde sapateiro, que lhe ensinou o prazer de se envolver com boas histórias. Saídas simbólicas, que permitem a seus personagens transformar sua condição no mundo. A pequena vendedora de fósforos, talvez a mais triste de todas as suas histórias, é uma menina pobre, que morre de frio e fome sendo ignorada por todas na véspera do Ano Novo. Sua morte, apesar de trágica, a liberta da tirania do pai, que a joga na rua para esmolar, do frio, da fome, da indiferença e a joga no colo da avó que lhe dá acolhida, em sua última alucinação de quase morte. Uma morte que mexe com sentimentos, que em doses homeopáticas, todo ser humano sente. Uma história que pode servir para as crianças elaborarem seus medos e ressentimentos. A tristeza da menina vendedora de fósforos faz parte da vida, por mais que não queiramos aceitar isso. Que bem poderá fazer a nossos filhos, ignorá-la? Saber que meninas como ela existem até hoje, só pode tornar nossos filhos mais humanos e generosos. Lidar com as provações, só pode torná-los mais fortes. As adaptações das obras de Andersen que escondem a carga dramática de seus personagens - como é o caso de A Sereiazinha e seu destino trágico diluído nas tintas coloridas dos estúdios Disney, na minha opinião, subestimam a capacidade das crianças de entender a vida. Isso não as impede de se revoltarem com o final, como foi o caso do meu filho Pedro, que aos 9 para 10 anos, assistiu a uma bela montagem do grupo Pequod, que preserva a história original. Ele saiu revoltado com a morte da menina, como ficaríamos todos se ela fosse real. Mas esta revolta não roubou dele a experiência de acompanhar a luta da menina para ter uma alma, conseguida mesmo que a custa da morte. Assim como as trágicas e muitas vezes violentas histórias da mitologia grega encantam nossas crianças. Claro que não defendo que estas histórias sejam contadas para crianças que mal saíram das fraldas. Mas, a medida que elas forem adquirindo maturidade para ouvir histórias mais longas, o que coincide com um tempo em que descobrem a existência da maior de todas as tristezas, a morte, acho, sim, que podem ser apresentadas ao universo de Andersen. Para nossa surpresa, na maior parte das vezes, as crianças se atêm mais no maravilhoso da história do que na morte dos personagens, como é o caso de O Soldadinho de Chumbo. Infantilizá-las no campo das emoções é um contra-senso, em uma sociedade que se gaba de ter filhos com cada vez mais habilidades precoces. Eles podem usar computadores aos três anos, mas não podem conhecer a morte aos seis. Eles podem aprender uma segunda língua antes mesmo de serem alfabetizados, mas não podem saber da miséria aos seis anos. Os fracassos da Sereiazinha, os obstáculos do Soldadinho de Chumbo e as privações da Pequena Vendedora de Fósforos só podem preparar melhor nossos filhos para as suas próprias dificuldades. Afinal, um dia todo mundo vai virar calçada maltratada, como o Tim já virou.
terça-feira, 2 de abril de 2013
Isol é mais uma autora em nossa estante

sábado, 30 de março de 2013
A fantasia para burlar o não

segunda-feira, 25 de março de 2013
Para gostar de ler
Lembro bem do primeiro livro que li sozinha. Eu devia ter uns oito anos e decidi ler a trilogia da Condessa de Ségur, que reúne As Férias, As meninas exemplares e Os Desastres de Sofia. Decidi não sei se é bem o verbo. Acho que minha mãe me ofereceu estes livros, da mesma forma que a mãe dela havia feito cerca de 20 anos antes. Li os livros com o vagar dos recém-alfabetizados e com o compromisso de quem sabia que esperavam que eu os terminasse. O intervalo entre a primeira e a última página acho que foi maior do que um ano, mas eu cheguei lá. Até hoje lembro da minha animação com Sofia, que, apesar de ser a menos exemplar das três meninas, não devia ser nenhuma subversiva a se contar com a origem aristocrática da autora russa. Depois deles, já um pouco mais velha, li Pollyanna e Pollyanna Moça, da americana Eleanor H. Porter, com seu jogo do contente que faz a protagonista se resignar com todas as agruras da vida. Literatura para moças que mais tarde seriam boas esposas. boas mães e boas senhoras da sociedade. Parece velho isso, né? Mas foi a literatura que me foi apresentada ainda criança. Minha mãe, filha de uma família da aristocracia carioca, que vinha perdendo posições com o aburguesamento do país e da cidade, me educava na virada dos anos 60 para o 70 com valores da elite do início do século. Mas era o raiar dos anos 70 e na minha casa, por razões outras, estes raios de sol também brilhavam. A mulher, dizia meu pai, mais no discurso do que na prática, tinha que ser independente, intelectualizada e livre. Apesar disso, minha educação seguia tradicional, com algumas brechas que me davam novas possibilidades e faziam com que meus pais tivessem certeza de que estavam educando uma mulher moderna. Eu me aproveitava dessas brechas e, sem saber direito a razão, me negava a usar as roupas comportadas, brincava como uma moleca e seguia adiante para uma adolescência mais do que conturbada. Foi a hora de me estranhar com aquele mundo. Esmalte colorido? Nem pensar. Pentear o cabelo? Pra quê? Sandália de salto? Muito desconfortável. Conversa de salão? O que eu falo? Foi então que caiu nas minhas mãos, quando a biblioteca do meu avô foi desmontada, uma coleção de livros do Érico Veríssimo. Eu os havia pedido para meu avó, talvez por eles serem os mais atraentes das estantes repletas de títulos em francês e coleções de autores clássicos que, naqueles dias, me lembravam a chatice dos livros adotados pela escola. A escola que frequentei é um capítulo a parte. O que havia de mais interessante nela era a coleção Para gostar de ler, da Editora Ática, que reunia deliciosas crônicas de Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga e Carlos Drummond de Andrade. Eu adorava as histórias, que me repunham o ar na travessia de narrativas rococós de José de Alencar e companhia, adotadas nas aulas de Português. Quase 40 anos depois, fico feliz em ver o Pedro lendo, na escola, estas crônicas e encontrando encanto nelas. Mas voltando à estante do meu avô, Érico Veríssimo me deu, naqueles dias de sofrimento de adolescente, liga com o mundo. Comecei por Clarissa e li num só fôlego os seis romances em que o autor narra as aventuras e desventuras de um grupo de personagens que se cruzam nestas narrativas. Mas foi em Vasco, o primo por quem Clarissa se apaixona, que encontrei alguém que falasse a minha língua. Vasco, um gaúcho comunista, que vai lutar como voluntário na Guerra Civil Espanhola, animou minha imaginação romântica naqueles dias dos primeiros namorados. Eu queria um Vasco na minha vida, assim como Clarissa o tinha. O universo humanista de Veríssimo me mostrou um mundo maior e mais arriscado do que o das Meninas Exemplares, mas muito mais interessante. Cresci junto com Veríssimo, explorando as muitas possibilidades de sua literatura e de seus personagens. Cresci longe dos infanto-juvenis que encheram as livrarias naqueles anos 70 e formaram tantas gerações mais novas do que a minha, com uma literatura que falava a língua das crianças e dos adolescentes. Eu não tive isso, mas encontrei a minha língua em gente mais velha do que eu, como Vasco. Uma língua universal que não é indiferente a nada do que é humano, a literatura.
sexta-feira, 1 de março de 2013
Uma história em círculos
Le petit Chaperon Rouge me impressionou no momento que o vi, ainda nas mãos da Sônia Monnerat, minha professora na especialização da UFF. Nunca tinha ouvido falar nele ou em sua autora, a suíça Warja Lavater, nascida em 1913 e falecida em 2007, três anos antes de eu conhecer sua mais popular obra. A obra é impressionante e mostra como é ilimitada a criatividade humana e sua capacidade de recriar a linguagem, além de ser um livro-objeto belíssimo.
Lavater conta a história de Charles Perrault, incorporando o caçador da versão dos irmãos Grimm, com apenas 16 palavras, usadas nas legendas dos círculos coloridos que representam as personagens e o cenário da história. No mais, apenas grafismos. Grafismos que nos permitem acompanhar a trajetória de Chapeuzinho, seu encontro com o lobo e o desfecho da história em uma bela narrativa não verbal. Ele é o primeiro de uma série de cinco contos tradicionais recontados pela artista em livros de imagens. Além de Chapeuzinho, Lavater recontou com suas tintas A Branca de Neve, Cinderela, O Pequeno Polegar e A Bela Adormecida. Infelizmente só conheço o primeiro. Mesmo assim foi um encontro fortuito. O vi naquele dia e nunca mais. Mas foi um encontro que me marcou. Marcou tanto, que, hoje, quase três anos depois de vê-lo ainda sou capaz de descrever meu espanto ao ver aberto diante de mim uma tira de papel de 4,74 metros, plissada e gravada com litografias. Como uma menina apaixonada no primeiro encontro, procurei o objeto de meu desejo por muito tempo sem encontrá-lo.
Editado inicialmente pelo Moma, ganhou edição popular na francesa Galerie Maeght, e nunca chegou ao Brasil. Popular não é bem o termo. Cada um deles custa 45,00 €. Já sei o que vou pedir para a minha prima trazer de Paris. Au revoir les enfants.
Editado inicialmente pelo Moma, ganhou edição popular na francesa Galerie Maeght, e nunca chegou ao Brasil. Popular não é bem o termo. Cada um deles custa 45,00 €. Já sei o que vou pedir para a minha prima trazer de Paris. Au revoir les enfants.
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
O maravilhoso amor de irmão
A maravilhosa ponte do meu rimão/irmão, de Ana Maria Machado, editado pela Objetiva, é um velho conhecido meu e do Pedro. Ganhei o livro de uma amiga querida, a Leni, que não está mais entre nós, quando o Antônio ainda era um bebezinho e nenhuma ponte o cativava. O Pedro adorava a história, talvez antevendo o amor e admiração que o irmão teria por ele anos mais tarde. Lemos várias vezes até que um dia, sem razão aparente, o livro ficou de lado na estante enquanto meus filhos cresciam. Pedro, nestes anos, foi deixando de ser criança para começar a se arriscar em um mundo em que as pontes só o ligam a meninas, ao rock e ao futebol. Antônio também cresceu, mas não o suficiente para descrer no maravilhoso. Para ele o mundo ainda é maravilhoso e senhor de mistérios que alimentam sua imaginação. Foi então que, ontem, em busca de uma novidade para ler para ele, lembrei da história e a busquei na estante. A ponte que me levou até o livro de Ana Maria Machado sobre o amor encantado de um irmão mais novo pelo mais velho, que o ensina as manhas da vida, foi o amor e o ódio que meus dois meninos vivem diariamente. O companheirismo é o combustível do amor que os une e o ciúme alimenta sem pudores o ódio experimentado pelos dois. Tanto que outro dia, flagrei no caderno do Pedro uma linha do tempo que indicava 2002 como o ano de seu nascimento e 2007, como o pior ano de sua vida, por causa do nascimento do irmão. Não foi nenhum choque, apenas ri. Conviver com um irmão nem sempre é fácil. Mas tenho certeza é uma das experiências mais ricas na vida de uma criança. Aprender a dividir, a compartilhar, a disputar, a brigar, a se defender, a azucrinar, a lidar com o ciúme, a amar e, sobretudo, a amar um tão próximo. Nada fácil, sei bem, eu que sou a do meio em uma família de três filhos, mas, diria, quase fundamental para a formação de um adulto disposto a partilhar sua vida com alguém. Essa experiência, acredito, fica ainda melhor quando os pais atuam para evitar os abusos cometido pelos mais fortes ou mais manipuladores, mas não impedem os irmãos de viverem seus conflitos. Aqui em casa, recentemente, tivemos que intervir para fazer o Pedro parar de se divertir em falar para o irmão que eu sumiria ou morreria, deixando-os sozinhos. Um dia o Antônio teve um ataque histérico na casa da avó, com medo de eu não voltar, que revelou o mal que o irmão estava fazendo a ele. O Pedro, assim que soube do efeito de sua brincadeira de péssimo gosto, chorou, dizendo que amava o irmão e que não fizera por mal. Sabemos que foi inconsequentemente por mal. Que ele é inevitável na relação de dois irmãos e que nem mesmo os pais podem evitar estas agruras. Querer irmãos sempre amáveis é plantar conflitos para o futuro. Na vida é preciso poder amar e odiar ao mesmo tempo. É da vida amar o irmão mais velho, que é exemplo e protetor, e odiá-lo por sempre levar a pior. Assim com amar o irmão mais novo, seu companheiro fiel, e odiá-lo por roubar seu espaço é um enredo clássico. Ana Maria Machado construiu uma bela relação entre os irmãos de sua história, onde não cabe nem mesmo a mãe, sempre alheia às razões deste amor. O que é maravilhoso no livro não é a ponte, mas o poder do amor entre irmãos tornar tudo maravilhoso, até mesmo um pedaço de madeira. Os dois meninos de A maravilhosa ponte de meu rimão/ irmão, amam acima de tudo, como o Pedro e o Antônio amam. Que assim possa ser para sempre.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
Ri melhor quem ri por último
Não há como ficar indiferente a uma boa história de macaco. Eles são inteligentes como nós humanos, maliciosos como os piores de nós e engraçados como os melhores. Essa identificação quase que imediata que temos com os macacos faz com que sempre torçamos por eles. Estejam eles certos ou errados, como é o caso do macaco do conto O macaco e o bolo, que faz parte do livro Histórias da Onça e do Macaco, da premiada Vera do Val, editado pela Martins Fontes. O macaco é um tremendo 171 e, além disso, entrega para a morte sem dó, nem piedade cada um dos bichos que engambela. Enfim, um ser desprezível. Mas não há como não admirar sua inteligência, que o leva a vitória em todos os embates em que se mete. A onça é mais forte, mas, nas histórias brasileiras, ela nunca leva a melhor. O macaco sempre a vence para alegria do leitor. Vera do Val, a contista paulista que radicou-se na Amazônia, reuniu várias destas histórias, que têm origem no folclore africano ou indígena e que se tornaram brasileiríssimas. Ela, que dedica o livro aos netos, narra cada um dos contos como se estivesse frente a frente com seu leitor. Não há criança que não se encante com Histórias da Onça e do Macaco, mesmo que já conheça alguns dos contos reunidos por Vera. O livro não corre o risco de parecer dégà vu, já que cada um que conta um conto aumenta um ponto. O Pedro, mais velho, foi capaz de reconhecer as diferenças entre as várias versões que ele conhece do Bicho Folharal e do Macaco e a Velha e curti-las. O Antônio, que está descobrindo os contos tradicionais, gostou mesmo foi das macacadas em torno do bolo e dos bichos que comem uns aos outros. Eu, por minha vez, adorei, além dos contos é claro, as ilustrações de Geraldo Valério, um brasileiro radicado no Canadá que com suas colagens reproduziu o esplendor das cores da floresta. Floresta que nós brasileiros fomos invadindo aos poucos com nossas cidades. As onças, que estão ameaçadas até nas matas, se foram. Mas os macacos estão em toda a parte - andando pelos fios saídos dos postes, nas janelas mais próximas do verde e em nossos parques urbanos - tentando com poucos recursos tomar de volta o território que um dia foi deles. Nós, com nossa força, estamos vencendo este embate, mas a vitória, tenho certeza, não nos será doce. Ri por último quem ri melhor. E o macaco sabe disso.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
Um mistério que passa de geração em geração
Hoje estou
voltando das férias. Não das minhas, mas dos meus filhos. Férias que me sugaram,
que me tiraram qualquer tempinho que pudesse ser só meu. Tempo livre para fazer o que eu quisesse, inclusive, passar por aqui, onde não venho há pouco mais de
um mês. Um mês em que pensei várias vezes em falar de O gênio do crime, de João Carlos Marinho, um
clássico da literatura infanto-juvenil brasileira, que está nas livrarias há
quase 40 anos encantando as crianças de várias gerações que topam compartilhar das aventuras da
Turma do Gordo. Já são 60 edições e, pela vitalidade da história, estes números não vão parar por aí. O mistério de tanta longevidade, com certeza,
está em uma narrativa bem amarrada da investigação acerca da falsificação de
figurinhas de um álbum de futebol. Logo nas primeiras linhas vi que o Pedro, um
aficionado por futebol que recentemente descobriu-se um amante de livros de
mistério, tinha sido ganho para a história, que o fez retardar por alguns dias a
hora de dormir. Bolachão é um menino gordo dotado de uma fina inteligência, que
o leva a ser contratado pelo dono de uma fábrica de figurinhas para descobrir
um falsário responsável por uma derrama de figurinhas premiadas no mercado. A
partir daí desenrola-se uma excitante investigação que coloca em
risco o menino e seus amigos. A narrativa de Marinho não se
amesquinha para conquistar leitores mais preguiçosos. Pelo contrário, é rica em
detalhes para delinear os personagens e criar o ambiente onde a história se
desenrola. Além disso, ela não tem pena das crianças e as provoca a
experimentar os mais terríveis sentimentos, como o medo da tortura e da morte, com a
passagem em que Bolachão está em poder dos bandidos. Meu filho suou frio em
vários momentos da narrativa, aumentando ainda mais seu interesse pelo livro. Marinho vai até o limite, fazendo o leitor crer que tudo é possível em
sua trama. A trama
policial é bem construída, nos dando pistas do desvendar do mistério, e convive
com traços de humor na narrativa para aliviar a tensão do leitor ainda criança. Com certeza, Marinho não escreve para agradar, mas sim para inquietar. Tanto que o Pedro já está no terceiro livro da série, o premiado Sangue Fresco, em que a turma do Bolachão enfrenta um sequestrador de crianças e traficante de sangue humano. Que venham os outros livros com as aventuras da Turma do Gordo.
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
O mundo encantado de Monteiro Lobato

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