
Uma pena eu adolescente não ter tido a oportunidade de ler
Lygia Bojunga. Eu crescia ao mesmo tempo em que ela, jornalista e atriz, se tornava escritora. No lançamento de
A Bolsa Amarela, seu terceiro romance,
eu tinha apenas 11 anos. Mas, como Raquel, estava estranhando o mundo para o qual me preparava. Tenho a idade de Raquel e muitas de suas questões, mas, ao contrário dela, que teve uma bolsa amarela para carregar seus desejos e abrigar seus amigos imaginários, passei este período da vida sozinha com meus medos e desconfortos. Não foi fácil. Os livros que lia - da minha mãe, da escola ou da Biblioteca de Tebas, lugarejo de Minas Gerais, em que passei três importantes anos de minha vida - não davam voz a adolescentes contestadores. Minhas heroinas eram
As meninas exemplares, sempre obedientes,
da Condessa de Ségur, e
Pollyanna, a personagem de Eleanor H. Porter que supera suas dores e desconfortos brincando com o jogo do contente. Muito diferente de Raquel que nos convence na narrativa em primeira pessoa que tem todas as razões do mundo para estranhar seus pais e irmãos já grandes. Para mim, teria sido um alento saber, nos primeiros dias de minha adolescência, que, em algum lugar real ou imaginário, alguém estava passando pelas mesmas angústias que eu e estava buscando seus caminhos. Mesmo, agora, quase 33 anos depois e com o livro em sua 34ª edição, pela Casa de Lygia Bojunga, a narrativa de Raquel mexeu comigo ao me fazer reviver, com olhos de adulta, aqueles tempos de adolescer. A universalidade da narrativa de Lygia deu ao livro um reconhecimento merecido.
A Bolsa Amarela ganhou o selo de ouro da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, dado anualmente ao livro considerado
O Melhor para a Criança, e o Certificado de Honra do IBBY (International Board on Books for Young People). Traduzido em vários idiomas, a história foi encenada em teatros do Brasil, Bélgica e Suécia. Para quem ainda não leu, posso atestar: nunca é tarde para conhecer Lygia Bojunga.