quinta-feira, 14 de dezembro de 2023
O Ceat é um lugar para aterrar e para recriar o comum
sábado, 11 de setembro de 2021
Eu e o menino da janela, outra vez
Acordei tarde, embalada pelo friozinho que chegou na cidade ontem à noite, e fui cuidar dos meus temperinhos na janela. Do outro lado, distante, estava o menino que grita pela janela. Assim que me viu, gritou: "oi!". Eu olhei em sua direção, surpresa (foi a primeira vez que ele se dirigiu a mim de início). Eu, constrangida com a deferência que me soou como homenagem, gritei de volta: "Oi!" Ele respondeu, "tá frio". Eu de cá, lembrei que hoje é sábado e que muita gente ainda devia estar dormindo, e gritei acanhada: "tá frio". Acenei. O menino acenou de volta. Uma mulher ainda jovem, que parecia ser sua mãe, apareceu na janela, como a me dizer que olha pelo filho. Acenou para mim. Eu retribuí o aceno. O menino, gritou de novo -"tá frio", em uma nova tentativa de puxar assunto. Eu de cá, ainda envergonhada, sem conseguir me despir da minha madureza, sepultei a conversa, com um lacônico "sim". Ele não desistiu, e continuou na janela a me olhar, talvez estranhando a mulher que costuma lhe retribuir os gritos guturais. Talvez tenha pensado que eu ainda não sei falar, que só sei gritar e repetir o que ouço, como os bebês. Será que ele tem um irmãozinho que faz isso, o imita em tudo? Não sei, mas sua mirada insistente me fez perceber que não sou assim tão livre, que não sei mais gritar pela janela como antes. Me vi incomodada. Olhei pro lado e vi as janelas dos vizinhos próximas, pensei "hoje é sábado", "ainda é cedo", "tem muita gente dormindo" e me calei. Me calei porque hoje é sábado, pensei, se fosse um dia de semana eu gritaria, conversaria à distância com o menino da janela. Acenei de novo. O menino mais uma vez retribuiu. De cá, pensei em quantas vezes podia acenar de novo, silenciosamente, protegida pelos meus pés de manjericão e alecrim, sem parecer estranha para o menino. Evitando a resposta, deixei a janela, mas não sem antes acenar mais uma vez para o menino.
domingo, 18 de julho de 2021
O grito do menino para a menina que um dia eu fui
No prédio em frente ao meu, há um menino que com frequência se diverte gritando na janela. A distância que me separa dele me impede de ver seu rosto, mas posso sentir o seu corpo miúdo próximo a uma rede que o protege do abismo. É de lá, do alto, de costas para a rua principal, de onde é impossível avistar alguém, que ele grita. Gritos que não passam de grunhidos, de berros sem nexo, de mensagens ao léu. De cá, o ouço como se me chamasse, como se falasse à minha infância, ao tempo em que eu, como ele, me debruçava na janela da casa dos meus pais para gritar.
Meu grito, como o dele, era sem nexo e sem destinatário, era apenas um
grito para romper o tédio, sentimento incompreensível para as crianças. Eu
gritava mais alto e mais agudo que o menino que escuto hoje. Gritava e ria depois,
como imagino que ele o faça. Gritava e aguardava as reclamações dos meus irmãos
e a reprimenda da minha mãe que me davam a certeza de que meu grito era ouvido.
Ele rompia o tédio, ele movimentava a casa, ele me enchia de energia.
Não sei que efeito ele provoca no menino defronte a mim. Não sei
se tem irmãos, se a mãe dele o recrimina, se o castiga, sei apenas que ele
grita e repete seu grito. Um grito sem nexo, um grito potente, um convite à infância
que recebo aqui, como uma intimação. Vou para a janela e grito em resposta ao
menino. Ele para, ouve, faz uma pausa e novamente grita. Eu retruco com um novo
grito. Ele grita outra vez, modulando a voz para obter novos efeitos. Eu de cá
me esmero para emitir um grito diferente. Ele devolve o grito. Eu grito
mais uma vez, com medo de estar esgotando meu repertório.
O menino não para, seus gritos não acabam. Eu de cá, tentando renovar
meus gritos, me pergunto o que os vizinhos estarão pensando de mim, mas volto a me concentrar em meu interlocutor. O menino sabe de onde vêm os gritos que respondem aos seus.
Não vê meu rosto, como não vejo o dele, mas sei que pode perceber pelo meu
corpo que sou uma adulta, e parece não se inibir com essa constatação. Me
pergunto se minha adultez o confunde. Espero que não. Queria mesmo que meus gritos
sussurrassem em seu ouvido que a infância é possível, mesmo quando ela termina, como fazem os seus nos meus.
sexta-feira, 28 de maio de 2021
Uma capela para Maria Preta
quinta-feira, 24 de dezembro de 2020
Nunca precisamos tanto de um natal. Enfim, é Natal!
segunda-feira, 14 de outubro de 2019
Uma escola para pais e filhos serem felizes
segunda-feira, 22 de julho de 2019
Sobre ser Kihu e seus voos
Um bando de Kihus |
quarta-feira, 17 de julho de 2019
A estética da vertigem em "Todo cuidado é pouco"
sexta-feira, 24 de maio de 2019
Piedade pouca
sexta-feira, 28 de dezembro de 2018
Eu, o jornal, os poetas e a vontade de habitar meu tempo
Ele ia embora para cumprir o resto de sua jornada de trabalho e o jornal envelhecia na mão do meu pai e de seu primo. Passado o meio dia, o que as manchetes nos informavam já era notícia velha, sem serventia, e aquelas folhas enormes e sem refinamento iram servir à limpeza da casa ou ao embrulho de produtos que não exigiam grande higiene. Assim, aos poucos, sem me aperceber fui tomando gosto pelo jornal até que, um dia, me convenci de que estar nele seria uma maneira de participar da vida pública. Eu gostava de escrever e me sentia comprometida com a luta por um mundo melhor. O jornal me parecia o lugar certo para quem, como eu, queria denunciar as injustiças sociais na esperança de superá-las. Assim eu fiz. No derradeiro ano da Ditadura Militar, ingressei na Faculdade de Jornalismo da PUC-Rio certa de que estava saindo do meu mundinho para encontrar o mundo. Um mundo que imaginei possível de ser mirado da janela do prédio do Jornal do Brasil, por onde eu passava em todos os meus retornos ao Rio, e, por sorte ou capricho do destino, foi onde tive a minha primeira experiência em redação. Foi naquele prédio imponente, ancorado em frente ao porto, no início da decadente Avenida Brasil, que eu pisei pela primeira vez em um jornal. Era uma menina ainda, com minha maioridade recém-completa, quando a convite de José Carlos Monteiro, meu professor e então editor do Informe JB, entrei naquele salão enorme em forma de H e me deparei com o burburinho característico de uma redação de jornal. Um frisson produzido pelo tilintar das máquinas de escrever e pelo andar frenético de homens e mulheres para lá para cá, atendendo o telefone como se do outro lado da linha estivesse o presidente da República, o Chico Buarque ou o Pelé. Eles falavam alto como se não houvesse mais ninguém naquele ambiente, em que o tempo parecia acelerado e estranho a quem não estivesse ali. O que mais me impressionou foram os fios, muitos fios descendo do teto para as incontáveis mesas de trabalho. Eram materiais conexões com o mundo e, por isso, estar ali e não se imaginar em seu no centro era humanamente impossível. Essa centralidade a faculdade nunca me dera, nem mesmo insinuara e, ao longo
daquele primeiro ano de curso, fui me convencendo de que não mais me daria. Eu tinha pressa e me transferi para a faculdade de Sociologia e Política, onde o meu tempo pulsava com vigor. Vivíamos nosso dia a dia, nos corredores da PUC, como se o futuro dependesse de nós. Mas não. Eu continuava na borda, lutando para, como João Cabral de Melo Neto, habitar o meu tempo, para encontrar, como Octavio Paz, "a porta de entrada para o presente" e, assim, "ser do meu tempo e do meu século". Tempo que só experimentei de verdade em meu reencontro com o jornal, que aconteceria quase uma década depois do meu ingresso na universidade, com meu retorno à PUC e à faculdade de Comunicação. A porta que transpus para me sentir novamente no centro do mundo foi mais uma vez a do Jornal do Brasil, com sua redação, agora, silenciada pelo computador e diminuída pela arrastada crise que acabou definindo o fim daquele impresso que marcou a história da imprensa no Brasil. Ali, comecei minha carreira de jornalista, ali, aprendi quase tudo que sei de texto, foto, notícia e edição, ali, me senti finalmente habitando o meu tempo, o meu século. Habitando-o como eu podia, com todas as críticas e incômodos que ele me causava, mas habitando-o. O importante, como diz o poeta, era estar ali, enquanto ele ocorria, ao vivo. Foram doze anos de redação. Do Jornal do Brasil fui para O Globo e de O Globo para assessoria de imprensa. Mantive-me na política, razão da minha paixão pelo jornal, e, assim, continuei, mesmo de fora, a fazer parte do mundo das redações. Eu de um lado, repórteres de outro, todos a favor da notícia e eu, sempre, indo ao encontro do meu tempo. Mas o meu século acabou e veio outro, ainda meu, apesar de estranho tempo em que o jornal já não está mais no centro do mundo, em que o mundo não tem mais centro e todos, inclusive eu, vivemos nas bordas. Minha luta, agora, é para habitar as bordas e alargá-las na busca de uma entrada para um novo presente, um novo tempo, um novo século.
quinta-feira, 11 de outubro de 2018
O olhar mágico de Lúcia Hiratsuka sobre o mundo
domingo, 2 de setembro de 2018
O cão que os meninos sempre quiseram ter
- Antônio, vai escolher um livro pro cachorro - disse, enquanto fuçávamos as estantes da Livraria Lello.
Surpreso com a sugestão, buscou a palavra segura do pai.
- Cachorro sabe ler?
- Sim - o Cadoca confirmou, vendo nessa resposta a possibilidade de se livrar da insistência do filho.
- Mas ele já nasce sabendo? - quis detalhes, enquanto folheava um livro na esperança de achar um que agradasse ao cão que não tinha.
Eu, que escolhia um livro, não consegui deixar de prestar a atenção ao diálogo mais do que improvável do meu menino com o pai e, depois de ver o empenho dele, quedei-me culpada por o estar enganando e confessei.
- Antônio, deixa de ser bobo. Você há viu um cachorro que saiba ler?
O muxoxo que se seguiu não conseguiu apagar de sua carinha o ar feliz de um dono de cão leitor.
- Pô, eu tava acreditando - disse, escondendo um sorriso envergonhado.
E, sem se abater, continuou, em uma forte aliança com o Pedro, que sonha com um cachorro há mais de uma década, a acreditar que nos dobraria. Os dois falaram de tudo, prometeram tudo, imploraram tudo e, vencidos, foram deitar abandonando suas esperanças. Foi, então, que o Cadoca, com o coração de pai amolecido pelas súplicas, olhos vermelhos e olhares derramados para qualquer cão que aparecesse na rua, decidiu ceder. E, na cabeceira da cama deles, prometeu.
- Meninos, nós vamos ter um cachorro. Quando chegarmos no Rio, escolhemos a raça, tá bem?
O Antônio explodiu em lágrimas, as mesmas que corriam tristes e disfarçadamente minutos antes, e o Pedro vibrou como em fim de campeonato. A surpresa logo cedeu à euforia e os dois se abraçaram, rolaram na cama, comemoram e, por fim, dormiram sonhando com o cão que eles sempre quiseram ter. Aquele cão que povoou a infância deles por meio de livros, como o do Otto, bonecos de pano e simples e poderosas fantasias. Ela ainda não chegou, mas como o Pedro bem disse, é como se ele nunca estivesse estado longe de nós.
terça-feira, 28 de agosto de 2018
A ida e a volta de uma aventura transatlântica
- Mãe, os brasileiros que vem morar em Portugal têm que aprender português - Antônio perguntou, interrompendo minha negociação com o dono dos queijos.
- Não, Antônio, falamos a mesma língua que eles. A diferença que você está percebendo é apenas o sotaque, algumas palavras e expressões. Mas isso não impede de nos entendermos - expliquei, rindo de sua lógica de menino.
- Vocês falam português, como nós - emendou o simpático senhor que nos atendia -, afinal, fomos os primeiros a chegar ao Brasil.
- Não foram, não - eu disse, sem nenhum traço de raiva na voz -, os índios é que foram os primeiros.
- Mas fomos nós quem descobrimos o Brasil - replicou o português, meio desconcertado com a minha negativa.
- Não foram, não - repeti -, vocês não descobriram o Brasil, vocês o colonizaram - eu disse, com tamanha convicção que o homem preferiu calar-se.
O Antônio que, sem querer, causara o constrangimento, aproximou-se do pai e do irmão para contar o diálogo e, rindo, me acusar de querer arrumar confusão com o simpático português. O que ele não contava era com a reação do Pedro, que ficou do meu lado com entusiasmo.
- Minha mãe tá certa. Eles são colonizadores, não são descobridores de nada - disse, em tom inflamado.
A indignação do Pedro o guiou por Portugal e o Sul da Espanha e nos fez pensar sobre nossas relações com os colonizadores e nossos laços com a Europa, a matriz do Ocidente cristão do qual fazemos parte, mesmo que com pé dentro e outro fora. Questões que estiveram presentes em quase todos os lugares que visitamos, desde as igrejas banhadas a ouro e prata latino-americanos, até os sítios arqueológicos que mostram que a história de nossos colorizadores foi marcada por uma longa e sangrenta luta pelo território. Questões que eclodiram nos comentários que o Pedro e o Antônio deixaram no livro de visitas do Mosteiro dos Jerônimos, em Lisboa. O primeiro denunciou o sofrimento dos povos nativos, no Brasil português, e, o segundo, a superioridade de Pelé sobre Euzébio. Mas há quem, como Lúcia Fidalgo e a ilustradora Andréa Resende, faça isso de forma poética, nos reaproximando daquele povo que arriscou-se no mar em busca de novos territórios. "Pedro, menino navegador", que infelizmente saiu de catálogo com o fechamento da Manati Editora, é um belo exemplo de como apresentar para crianças uma questão tão complexa. Não nos deixa esquecer a aventura épica que foi as navegações e, ao mesmo tempo, a violência da colonização. Vale a pena procurá-lo em sebos. Deixo, aqui, um pouco de Fernando Pessoa, como homenagem aos portugueses que lá nos acolheram com carinho, 500 anos depois de darem com os costados em nossas terras.
domingo, 1 de julho de 2018
Um passeio por uma loja de brinquedos do Rio
- Pedro - chamei alto, já apavorada, tentando me controlar.
Nada. Nada dele responder ou aparecer. Fiquei em pânico, pensando na possibilidade de não encontrá-lo mais. A Dulce, mãe de dois filhos grandes, tentou me acalmar. O Cadoca, apesar de inseguro como eu, manteve a calma e foi logo pedir ajuda aos seguranças.
- Nosso filho sumiu, o senhor pode nos ajudar - pediu.
Na mesma hora, o homem comunicou a seus pares, por um rádio-transmissor, que um menino de quatro anos, vestido com um shortinho estampado e uma camiseta laranja, calçando uma sandália Ortopé, estava perdido no shopping. Voltando-se para nós, explicou.
- Quando uma criança se perde, todos os seguranças observam as portas para impedir que elas saiam do shopping. Os senhores podem ficar calmos, nós vamos achar o menino - disse para nos tranquilizar e completou - Vamos começar a procura pela loja de brinquedos, aqui do térreo. Mais de 90% das crianças que se perdem são encontradas na loja de brinquedos.
Ela não estava longe e corremos todos para lá. Eu, Cadoca, Dulce e o segurança. A loja é uma das maiores do shopping. Grande, com enormes vitrines, porta larga e escancarada, atendentes sorridentes e muitos, muitos brinquedos cobrindo o chão, as paredes e se exibindo para os curiosos. No fundo da loja, estavam dispostos os brinquedos para bebês e crianças pequenas. Coloridos, sonoros, enormes e convidativos. Na frente deles, contemplativo, estava o Pedro olhando-os atento, ignorando nossa procura. Diante da parede ocupada por brinquedos de alto a baixo, parecia ainda menor do que era. Ao vê-lo, toda a minha angústia explodiu e caí no chão, de joelhos, para abraçar meu pequeno, recuperado, de volta ao ninho. Ele me olhou espantado, sem entender tanto nervosismo e choro, e, silenciosamente, com aquele olhar exclusivo das crianças, se indagou se eu estava perdida.
domingo, 10 de junho de 2018
Água bastante
domingo, 13 de maio de 2018
Eu e, sempre, eles
@Fotos Macarena Lobos e Claudio Oliveira
quinta-feira, 15 de março de 2018
A Marielle que habita em cada um de nós
Um calor como o de hoje. Um dia castigado por um sol inclemente que não nos dá conforto nem para chorar a morte. Não choro por nenhum dos meus. Choro por Marielle, a vereadora das margens que lutava por um Rio para todos, e por seu motorista Anderson Pedro Gomes, invisibilizado pelo forte significado da morte da parlamentar. Choro sozinha, em casa, onde permaneço cuidando de meu filho pequeno que sofre há dias com falta de ar. Uma falta de ar literal, que o angustia e assusta, assim como aquela asfixia metafórica que nos acometeu no instante da notícia da execução da vereadora.
Na Cinelândia, uma multidão vela Marielle e clama por justiça. São tantos os olhares que se encontram incrédulos com o rumo que as coisas tomam no Rio e no Brasil, que há mais dúvidas do que certezas. Estão todos ligados pelo assombro causado pelo recado surdo das balas que fizeram tombar Marielle e seu motorista. Até quando? Até aonde eles vão? Perguntam-se todos.
Marielle não viveu como heroína, apenas exerceu plenamente a condição humana de ser político. O que, então, a faz diferente de nós? Talvez o fato de ter exercido essa condição à moda antiga, sem pensar em todo instante nas urgências de seu corpo. Sem pensar somente em comer, beber, viver e evitar a morte. Um compromisso com o que é de todos que a fará eterna na lembrança daqueles que lutam, mesmo que sua vida tenha sido tão banal quanto a dos milhares de homens e mulheres que votaram nela.
As balas que a calaram foram as mesmas que a transformaram em heroína e mártir. Mas elas não foram dirigidas apenas a Marielle e a seu motorista, mas a todos nós, mulheres e homens de vida banal. O recado claro - manda quem pode, obedece quem tem juízo – não precisa ser levado em conta. Nós temos escolha. Mas para escolhermos o caminho de lá e ignorarmos aqueles que julgam mandar e exigem nossa obediência, precisamos olhar para Marielle pelo menos mais uma vez. Precisamos viver como Marielle, sem a pretensão de sermos heróis ou mártires, pensando menos em apenas comer, beber, viver e evitar a morte e mais em exercermos nossa condição humana.
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018
A foto na cabeceira da minha avó
OBS: Peço desculpas por não ter falado de um livro para crianças, nem dos meus filhos. Quis olhar para trás, falar da memória. Da foto na cabeceira de minha avó. Das perdas de quem viu sua casa ruir na tragédia do Palace II, que completou ontem 20 anos.
segunda-feira, 1 de janeiro de 2018
Um sopro de possibilidades na primeira manhã de 2018
sábado, 23 de dezembro de 2017
Tecendo a manhã
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.